Título: CPI vai vigiar investigação da PF
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2005, Nacional, p. A12

PSDB, PFL e PMDB vencem petistas e criam comissão para acompanhar cada passo da polícia no escândalo dos Correios

As investigações da Polícia Federal sobre a corrupção nos Correios serão vigiadas de perto por uma comissão formada por membros da CPI que também apura o caso. Depois de duas horas de debates e de protestos do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), contra qualquer iniciativa da CPI de "tutelar" a polícia, o PFL e o PSDB venceram a queda-de-braço travada com os governistas: conseguiram o apoio do PMDB para criar uma espécie de subcomissão da CPI para acompanhar cada passo da PF. "Pedimos uma comissão externa como medida preventiva contra qualquer operação abafa sobre os resultados da investigação da Polícia Federal", disse o líder pefelista, José Agripino Maia (RN). O líder do PMDB, senador Ney Suassuna (PB), prometeu ajudar a aprovação do requerimento no plenário da CPI nos próximos dias, para garantir a interação entre os trabalhos da comissão, da PF e do Ministério Público .

Não foi fácil chegar a esse entendimento na reunião do colégio de líderes. A discussão esquentou quando o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), citou a prisão arbitrária de um diretor do Ibama, libertado cinco dias depois com um pedido de desculpas, e levantou a suspeita de que a PF estaria sendo usada para perseguir adversários.

"Cooperação tudo bem, mas comissão externa e interferência, não", protestou Mercadante. "Vocês estão com uma atitude burra, de barrar a comissão externa, porque aos olhos da opinião pública vai parecer que esta CPI ficou mais chapa branca ainda", reagiu Agripino, ao frisar que até agora não houve integração nem comunicação alguma da PF com a CPI, o que a seu ver foi um erro.

Em meio às queixas, críticas e suspeitas, o líder do governo defendeu a tese de que a PF não precisa de nenhum tipo de tutela e disse que criar uma comissão externa, passando a idéia de fiscalização e controle, não seria bom para a imagem do Congresso. O petista lembrou que a integração e a aproximação são positivas e funcionaram bem nas CPIs do impeachment do ex-presidente Fernando Collor e do Orçamento.

Embora a comissão externa tenha tomado 90% do tempo dos debates no colégio de líderes, o motivo que levou o presidente do Senado a convocar a reunião foi outro: quando criar a CPI mista da Câmara e Senado para investigar as denúncias do pagamento de mensalão a deputados. Como o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), já havia reagido publicamente à idéia de ver senadores investigando deputados no caso do mensalão, Renan e os líderes decidiram dar prazo de uma semana à Câmara para que ela se antecipe e crie uma comissão exclusiva de deputados para apurar as denúncias.

A leitura do pedido de CPI mista do mensalão, que na prática cria a comissão, foi marcada para a quarta-feira. Renan convocará uma sessão do Congresso para esse fim.

Nem bem o assunto mensalão havia sido encerrado, os líderes já começaram a tratar de uma terceira CPI - a dos Bingos -, que vai apurar denúncias contra o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, flagrado cobrando propina de um bicheiro. Renan também vai reunir o colégio de líderes na semana que vem para definir com eles o prazo que terão para indicar seus representantes nessa CPI, sob pena de ele mesmo apontar os nomes dos partidos e instalar o inquérito.