Título: Jefferson diz que genro era 'seu ouvido nas estatais'
Autor: Ana Paula Scinocca Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2005, Nacional, p. A10

Em depoimento que durou duas horas e meia à comissão de sindicância da Câmara, o deputado Roberto Jefferson disse que seu genro, Marcus Vinícius Vasconcellos Ferreira, circulava nas estatais para saber o que acontecia nas empresas. "Ele era o meu ouvido", disse Jefferson, segundo contaram pessoas que acompanharam o depoimento. O genro do deputado foi citado ontem no depoimento do ex-diretor da empresa Maurício Marinho à CPI dos Correios. Marinho afirmou que recebeu os autores da gravação na qual aparece aceitando dinheiro, para atender pedido de Marcus Vinícius. Na gravação, o ex-diretor diz que o genro de Jefferson seria o canal do PTB com os Correios. O Ministério Público também determinou abertura de inquérito no Rio para apurar o envolvimento do genro de Jefferson em supostas irregularidades em contratos e licitações na Eletronuclear.

Deputados da comissão constataram uma contradição entre os depoimentos de Jefferson e do líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), quanto à data em que se falaram por telefone. A comissão deverá analisar registros telefônicos da Câmara para esclarecer essa questão. As versões sobre a data em que Suassuna ligou para Jefferson pedindo que ele recebesse Arlindo Molina, um dos autores da gravação com Marinho, têm diferença de quase um mês. Ontem, em entrevista, Suassuna voltou a dizer que Molina o procurou para tratar de aliança entre o PTB e o PMDB no Pará.

O senador repetiu que apenas mandou a secretária dele ligar para Jefferson para saber se ele poderia receber Molina naquele momento, a pedido do próprio Molina. Essa ligação teria acontecido em abril passado. Outra ligação foi feita, segundo Suassuna, em abril, mas Jefferson não estava em Brasília.

À comissão, Jefferson repetiu que só vai falar sobre o destino dos R$ 4 milhões que diz ter recebido do PT depois que o partido revelar a origem do dinheiro. Ele evitou assumir que distribuiu o dinheiro, apenas confirmou que pegou os R$ 4 milhões que seriam para campanha eleitoral do ano passado.

Jefferson afirmou, no depoimento, que o acerto foi fechado entre ele e a cúpula do PT, mas que o então ministro José Dirceu homologou o acordo. "Foi muito esclarecedor", disse o corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), coordenador da comissão.