Título: Raquel garante que PL ofereceu mesada
Autor: Ana Paula Scinocca Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2005, Nacional, p. A10

Deputada repete na Câmara denúncia que fizera ao 'Estado' e revela: oferta de R$ 30 mil foi feita por Sandro Mabel

A deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) confirmou, ontem, em depoimento no Conselho de Ética da Câmara, que o deputado Sandro Mabel (PL-GO) lhe ofereceu R$ 30 mil por mês mais um bônus de R$ 1 milhão, no fim do ano passado, para trocar o PSDB pelo PL, conforme antecipou o Estado no início deste mês. O relato da deputada, que se licenciou da Câmara e é atualmente secretária de Ciência e Tecnologia de Goiás, reforça as denúncias feitas pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre a existência de um esquema de pagamento de mesada a parlamentares em troca de apoio ao governo. Foram quase três horas de depoimento. Raquel explicou em detalhe o que conversou com Mabel e informou dia e local em que se encontraram. Garantiu que repetirá tudo na frente do deputado e revelou, ainda, que foi procurada por uma pessoa do Palácio do Planalto, assim que seu nome foi divulgado como uma das pessoas assediadas para receber o mensalão.

"Houve um telefonema do Palácio do Planalto para a Secretaria de Ciência e Tecnologia. Eu disse para minha secretária que não atenderia ninguém naquele dia", afirmou, quando o relator Jairo Carneiro (PFL-BA) lhe perguntou se teria sido procurada pelo governo. Disse desconhecer o nome de quem a procurou, mas prometeu atender ao pedido para que sua assessora confirme quem fez a ligação.

No dia 8 de junho, dois dias após o governador de Goiás, Marconi Perillo , afirmar que havia informado o presidente Lula de que dois parlamentares do PSDB goiano tinham sido assediados, o Estado antecipou que um dos nomes era o de Raquel Teixeira. No dia seguinte, ela viajou com a comitiva do governador para Paris, só retornando na semana passada.

No depoimento, Raquel disse que Sandro Mabel a procurou no dia 18 de fevereiro do ano passado. Os dois se encontraram no plenário 16 da Câmara e Mabel, que ainda não era líder do partido, teria feito um convite para que ela fosse para o PL. O partido, alegava ele, estava tentando preencher uma lacuna, pois havia se distanciado da área de educação. A conversa começou em tom de elogio e só no final foi feita a oferta financeira.

"Sandro fez a seguinte colocação: o PL quer se repaginar e ter uma cara nova. Temos que ter uma mulher, mas não qualquer mulher. Queremos uma que faça diferença", contou. Mabel disse que, indo para o PL, a deputada, que já foi secretária de Educação de Goiás, "viajaria pelo Brasil adequando a educação ao perfil do PL". Depois de seguidos elogios, contou a deputada, "veio a oferta de R$ 30 mil por mês mais R$ 1 milhão. Dependendo do acerto, o valor poderia chegar a R$ 50 mil".

"Fiquei indignada. Não perguntei mais nada e a conversa acabou ali. Entendi que o caminho apropriado era me aconselhar com o governador Marconi Perillo." Não deu publicidade ao caso na época, explicou, porque não tinha prova. "Agora, o Roberto Jefferson fez a diferença. Hoje, não sou acusadora, sou testemunha. Sou uma peça para ajudar a montar um quebra-cabeça maior."

REAÇÃO

A liderança do PL reagiu com uma frase do deputado José Carlos Araújo, segundo o qual "há um complô para desgastar os que fazem oposição" (ao governo de Goiás) e "querem se lançar candidatos" (à sucessão de Perillo). A estratégia incluiu insinuações de que a deputada favoreceu o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, ao assinar uma licença para que ele se afastasse das funções de professor em Goiás para ocupar função como dirigente sindical. Araújo afirmou, ainda, que se ela "se julga tão ética" não deveria ocupar até hoje um apartamento funcional (pois é secretária do governo goiano). Raquel argumentou que o imóvel foi desocupado na semana passada: "Não sou a primeira nem a única a ficar mais um tempinho."