Título: Crédito leva a recorde de captações
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2005, Economia & Ngócios, p. B1

Emissão de títutos privados chega a R$ 22,2 bilhões de janeiro a maio, o maior valor dos últimos cinco anos

O mercado de capitais brasileiro vive momento de euforia com o expressivo crescimento das emissões de títulos privados. De janeiro a maio as captações de empresas e instituições financeiras atingiram R$ 22,2 bilhões, o melhor resultado nos últimos cinco anos. Segundo a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), em 2004 foram captados no mesmo período R$ 3,2 bilhões e, em 2003, R$ 3,6 bilhões. O carro-chefe deste ano é a emissão de debêntures (títulos de renda fixa), especialmente por instituições de leasing. Quase 60% das emissões foram feitas por Itaú, Unibanco, BankBoston e Bradesco, que captaram R$ 12,5 bilhões por meio de empresas de leasing. A explicação está na maior demanda no mercado de crédito para pessoa física e micro, pequenas e médias empresas.

Segundo o vice-presidente da Anbid, Luiz Fernando Resende, há grande disposição dos investidores, especialmente institucionais, em adquirir esse tipo de papel. Com isso, as empresas têm conseguido reduzir as dívidas em moeda estrangeira. "Hoje é possível captar com prazos mais longos, de até dez anos, no mercado interno. Antes, não passava de um ano."

Resende diz que o dólar no atual patamar (R$ 2,38, na sexta-feira) desestimula captações externas e beneficia o mercado doméstico. A preocupação é que o real se desvalorize e pressione dívidas em moeda estrangeira, como ocorreu em 1999. Para se expor, as companhias precisam fazer hedge (proteção) contra a variação cambial. Mas o custo da operação encarece a emissão no exterior. "As empresas aprenderam que o descasamento de dívidas em dólar e receitas em reais não faz bem para a saúde financeira", diz o estrategista-chefe da Fator Corretora, Claudio Monteiro. Na opinião dele, o aumento de captações no mercado interno é reflexo da estabilidade econômica que permite maior planejamento das empresas. "Novos projetos foram formulados em 2004 e efetivados este ano."

A Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), controladora de empresas como NovaDutra e AutoBan captou, em abril, R$ 150 milhões por prazo de seis anos, pagando 105% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI). O diretor financeiro, Ricardo Froes, diz que a demanda pelos papéis foi três vezes o valor ofertado. A companhia também foi autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a captar mais R$ 250 milhões. A participação do mercado doméstico no financiamento da empresa tem sido crescente. "Com isso, conseguimos reduzir o endividamento em moeda estrangeira, que hoje representa 20% do endividamento total." A Camargo Corrêa Cimentos lançou R$ 360 milhões em debêntures, sendo R$ 100 milhões com vencimento em três anos e R$ 260 milhões em cinco anos. A remuneração dos papéis ficou entre 103% e 104,5% do CDI. O plano original era lançar R$ 300 milhões, mas por causa da grande demanda pelos títulos a empresa elevou o valor em 20%. O lançamento de debêntures faz parte da estratégia de obter recursos para financiar seu crescimento.

Outras companhias como Sabesp, Cerj, Cia Leco, Net Serviços de Comunicação, Ultrapar, Copel, Gafisa e Tractebel também apostaram no mercado interno com captações de peso