Título: Brasil é emergente que menos cresce
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2005, Economia e Negócios, p. B3

Henrique Meirelles admite que economia terá este ano desempenho inferior ao dos demais países em desenvolvimento

BASILÉIA - O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, admitiu que o crescimento da economia brasileira em 2005 ficará abaixo das taxas apresentadas por outros grandes países emergentes. "Isso significa que temos de persistir com uma política macroeconômica responsável e persistir com a estabilidade para poder diminuir as taxas de juros no longo prazo", afirmou Meirelles, que passou os últimos dois dias em Basiléia, na Suíça, em reuniões no Banco de Compensações Internacionais (BIS). O presidente do BC brasileiro evitou dar qualquer indicação se irá rever a estimativa de um crescimento de 4% neste ano, mas o BIS publicará hoje na Suíça dados sobre suas próprias projeções para 2005 para os mercados emergentes e também para as economias desenvolvidas.

Na avaliação de Meirelles, para que o crescimento do PIB brasileiro consiga se equiparar ao dos demais países emergentes, o Brasil precisa garantir um "horizonte de planejamento maior para investimentos e continuar com a política de ajuste fiscal".

Segundo ele, isso aumentaria a "capacidade de crescimento do País" e daria a oportunidade para que a economia nacional tivesse um desempenho igual ou até melhor que o dos demais grandes países emergentes.

Meirelles, porém, defende um crescimento "sem inflação, sem crise e sem bolha de curto prazo". "Precisamos criar um crescimento sustentável para o Brasil", disse.

Ainda que a taxa de crescimento do País seja inferior à das demais economias emergentes, Meirelles aponta que o desempenho ficará acima da média verificada nos últimos 15 anos. "As estimativas apontam que 2005 ainda apresentará um crescimento superior à taxa histórica e em um período de acomodação, depois de um ano de crescimento elevado de 5% em 2004", afirmou.

Além do crescimento abaixo dos demais emergentes, economistas na Basiléia apontam que o Brasil ainda está indo na contra-mão no que se refere às taxas de juros praticadas na América Latina nos últimos três anos. Enquanto a região segue uma linha de queda dos juros, a dívida pública no Brasil, de 52% em relação ao PIB, ainda dificultaria essa redução. Os economistas lembram que a taxa de spread da Colômbia ainda é menor que a do Brasil.

Apesar de as estimativas indicarem um crescimento inferior para o Brasil em comparação aos demais emergentes, o presidente do BC argentino, Martin Redrado, aponta que o sistema bancário na América Latina tem se mostrado sólido. "As crises políticas nos ensinaram a fazer sistemas financeiros mais resistentes às crises e com menores riscos", disse Redrado, que qualificou o real como uma moeda "muito forte".

Além dos debates sobre o futuro das políticas monetárias, os representantes dos BCs comemoraram os 75 anos de existência do BIS, o banco central dos bancos centrais. O Brasil foi convidado em 1997 para entrar no clube responsável por discutir a estabilidade monetária e financeira e por promover a troca de experiências entre os países.