Título: Produtores rurais levam tratores a Brasília para manifestação
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2005, Economia & Negócios, p. B3

BRASÍLIA - A Esplanada dos Ministérios, em Brasília, será tomada entre amanhã e quarta-feira por 2 mil máquinas e tratores agrícolas e cerca de 15 mil produtores rurais, em um protesto contra as perdas acumuladas com a valorização da taxa de câmbio e a impossibilidade de acesso às linhas de financiamento previstas no Plano de Safra. Os manifestantes chegaram ontem a Brasília, trazendo os tratores sobre caminhões, e se instalaram no Parque de Exposições da Granja do Torto, próximo à atual residência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Organizado pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), o "tratoraço" tentará chamar a atenção do governo para a "pior crise de todos os tempos", refletida na perda de 18,2 milhões de toneladas na safra agrícola deste ano e na estimativa de redução de 10,5% no PIB do setor - de R$ 95,4 bilhões, em 2004, para R$ 85,4 bilhões. Representantes do "tratoraço" participarão amanhã de uma audiência pública das comissões de Agricultura da Câmara dos Deputados e do Senado. Na quarta-feira, deverão ser recebidos pelo presidente Lula. Segundo Homero Pereira, presidente da Federação da Agricultura do Mato Grosso e organizador da manifestação, o setor reivindicará a liberação de uma linha de financiamento, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

Esse crédito, com custos mais baixos, teria o objetivo de cobrir uma parcela do endividamento dos produtores rurais com os fornecedores de defensivos, de fertilizantes e de outros insumos, resultante da valorização do real. O setor se comprometeria a renegociar essa dívida com os credores. Outra reivindicação é a suspensão de uma regra do Plano de Safra, que prevê o acesso dos produtores agropecuários ao crédito apenas se estiver adimplente e apresentar garantias.

"O governo não tomou nenhuma medida para mitigar a situação da agropecuária, apesar de o setor ser o principal responsável pelo superávit na balança comercial", disse Pereira. Os segmentos mais afetados pela crise, segundo a CNA, são soja, arroz, milho, algodão, trigo, feijão, vinho e gado de corte.