Título: Petróleo e política dominam cenário
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2005, Economia & Negócios, p. B4

Dança dos preços internacionais do barril deve influenciar os negócios no mercado, que vai ficar atento também aos lances da crise

A escalada dos preços do petróleo passou a dividir com a crise política interna, desde a semana passada, a atenção dos investidores como dois dos principais focos de tensão do mercado financeiro. O pinote da cotação do barril, que bateu novos recordes e fechou sexta-feira a US$ 59,84 nos contratos para entrega em agosto, contribuiu para a queda de 4,51% da Bolsa paulista na semana que passou. O desempenho negativo da bolsa refletiu as baixas do mercado acionário americano, influenciado pelas incertezas com o rumo do preço do petróleo. "A Bolsa de São Paulo está muito correlacionada com a Bolsa dos Estados Unidos", comenta Rodrigo Boulos, executivo da Tesouraria do Standard Bank. Segundo ele, a arrancada do petróleo, pressionado pelo aumento da demanda, traz complicações para o mercado global, principalmente para o de ações. "A alta provoca o temor de elevação dos juros, de aumento do custo de produção, redução de receita e lucro de empresas." O investidor que aplica em bolsa nos EUA compra ações também no Brasil, daí por que uma perda por lá leva em geral a vendas e baixas por aqui também, explica Boulos.

O executivo do Standard Bank diz que o mercado vai continuar acompanhando ainda os próximos lances da crise política e da reforma ministerial . "Isso (a remodelação do ministério) já está incorporado nos preços", avalia. "Mas, se não cria movimento positivo, não deixa também que o mercado piore."

Os indicadores de inflação também permanecerão no foco do mercado, que especula insistentemente quando o Banco Central poderá retomar a política de redução da taxa básica de juro. A maioria das estimativas aponta para o último trimestre, mas a idéia é que o início do corte seja antecipado caso o comportamento de preços permaneça em curva descendente.

Além da projeção de inflação do mercado a ser divulgada hoje com a pesquisa Focus, o investidor vai tomar conhecimento também da inflação pelo IPC da Fipe na terceira quadrissemana do mês; e na quarta-feira será anunciado o IGP-M de junho. A previsão do mercado é que esse indicador aponte inflação negativa (deflação) de 0,30%. Ainda na quarta-feira o Banco Central divulga o Relatório de Inflação do segundo trimestre.

A dança dos preços do petróleo não será o único foco do investidor no exterior. Vai atrair também o interesse a reunião do FOMC (Comitê de Mercado Aberto do Federal Reserve - Fed, banco central americano), que se realiza na quinta-feira para, segundo a maioria das previsões, elevar o juro de curto prazo dos Estados Unidos dos atuais 3% ao ano para 3,25%.

Outros indicadores relevantes nos EUA, de acordo com Boulos, são os dados anualizados do PIB no primeiro trimestre, que serão conhecidos na quarta-feira; e, na quinta, será divulgado o PCE de maio, um deflator de inflação que o Fed acompanha de perto para a tomada de decisão sobre o juro.