Título: Brasileiro gasta R$ 91,6 bilhões com tarifas
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2005, Economia & Negócios, p. B5

Gastos com serviços básicos para o funcionamento da casa já consomem o equivalente a 60% das despesas com alimentação

Os brasileiros devem gastar neste ano R$ 91,6 bilhões com serviços telefonia fixa, energia elétrica, água e esgoto, gás de cozinha, condomínio e imposto predial. Todos esses serviços obrigatórios para a manutenção da casa, a maioria dos quais tem os preços administrados pelo próprio governo, vão responder por 7,5% de R$ 1,2 trilhão do consumo das famílias estimado para este ano, revela o estudo exclusivo do Instituto de Pesquisa & Desenvolvimento de Mercado (IPDM). O valor gasto com essas despesas compulsórias corresponde a quase 60% do desembolso das famílias com comida no domicílio projetado para 2005, que é de R$ 156,2 bilhões. "Em relação à alimentação, esses gastos são muito elevados", diz o diretor do IPDM, Antônio Carlos Ruótulo, responsável pelo estudo.

Ele pondera que, do ponto de vista do orçamento familiar, a despesa com os serviços para a manutenção da casa é desproporcional comparada com a de alimentação, que é um gasto ligado diretamente à sobrevivência das pessoas. "Isso sem considerar as despesas com saúde e educação, que também são básicas", observa

Para chegar a essas cifras, o estudo do IPDM, empresa especializada em avaliar potencial de mercado para produtos e serviços, tomou como base a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) usada para o cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a medida oficial de inflação, apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O estudo reconstituiu o consumo de produtos e serviços em 48.470 domicílios entrevistados, com renda mensal de até 40 salários mínimos, nas 27 unidades da federação em 2003. Os valores de consumo, corrigidos pela inflação do período, foram projetados para este ano com base na expectativa inicial de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,7%.

Essa desproporção entre os gastos com serviços básicos e alimentação, por exemplo, reflete em parte as regras de reajustes de preços que valem para esses serviços. No caso da telefonia fixa e da energia elétrica, os indexadores usados são influenciados especialmente pela variação dos Índices Gerais de Preços (IGPs). Eles são afetados pelas oscilações do câmbio e do movimento dos preços no atacado, que responde por 60% do índice, observa o economista da LCA Consultores, Raphael Castro.

Nos últimos 12 meses até maio deste ano, todos os serviços básicos da casa tiveram aumentos de preços superiores à inflação acumulada no período pelo IPCA, que foi de 8,05%.

O serviço que puxou a fila dos aumentos foi a telefonia fixa, que subiu 13,37% no período. A despesa com esse item deverá ficar ainda mais salgada com o reajuste de 7,27% anunciado e que passa a valer a partir da segunda semana de julho.

A vice-liderança do ranking dos aumentos ficou para os serviços de água e esgoto, que foram majorados em 12,14% em 12 meses, seguida pela energia elétrica residencial, que ficou 10,40% mais cara no período. Nas contas do economista da LCA, a inflação média desse grupo de serviços (IPTU, água/esgoto, eletricidade, telefone fixo e condomínio), ponderada pela estrutura de gastos das famílias, aumentou 11,01% entre junho do ano passado e maio deste ano. De uma inflação de 8,05% acumulada em 12 meses até maio deste ano, os serviços responderam por 17,90%.

A perspectiva, segundo Castro, é de um certo alívio na inflação dos serviços a partir do ano vem porque os IGPs estão cedendo nos últimos meses. Mas ele ressalva que há uma certa volatilidade nesses indicadores de preços, sujeitos a elevações, caso ocorra uma desvalorização do câmbio e as commodities e os derivados de petróleo registrem elevações abruptas.

RENDA

Entre os serviços domésticos obrigatórios, o estudo do IPDM mostra que a eletricidade deve liderar os gastos neste ano com R$ 27,8 bilhões, seguido pelo telefone fixo (R$ 26,6 bilhões), gás encanado e de botijão (R$ 14,6 bilhões), IPTU (R$ 14 bilhões) e condomínio (R$ 8,5 bilhões).

Ruótulo destaca que, no caso do telefone fixo, a participação porcentual dessa despesa da casa no orçamento familiar da camada mais baixa da população, que recebe por mês até R$ 1 mil, e da mais alta, com ganho mensal acima de R$ 3,9 mil, é praticamente equivalente, de 2% no primeiro grupo e 1,9% no segundo. Na camada da população com renda intermediária, que recebe entre R$ 1 mil e R$ 3,9 mil por mês, a participação é de 2,7%. "Isso explica as dificuldades de expandir a telefonia fixa e o sucesso do telefone celular pré-pago."

Outro dado relevante do estudo é que na região Sudeste, o principal mercado consumidor do País, as despesas com energia elétrica atingem de maneira generalizada todas as camadas de renda.

Nas famílias de renda baixa, o desembolso total neste ano com a conta de luz deverá ser R$ 5 bilhões; na faixa de renda média, R$ 5,3 bilhões; e na camada mais alta, R$ 5,2 bilhões.