Título: PF deflagra megaofensiva contra acusados de corrupção
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2005, Nacional, p. A4

Governo espera sair da defensiva com as ações - que envolvem denúncias sobre mensalão, Correios, IRB e agências de propaganda

BRASÍLIA - A Polícia Federal vai iniciar esta semana uma série de operações contra setores que, nas últimas semanas, foram alvo de denúncias. Com esse conjunto de ações - que atinge agências de publicidade, contratos dos Correios, negócios com o Instituto de Resseguros do Brasil e os partidos envolvidos no suposto esquema do mensalão -, o governo espera sair da defensiva e escapar ao bombardeio a que esteve submetido desde que o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) depôs na Comissão de Ética da Câmara. "Será uma semana para estremecer a República", disse uma alta fonte do governo. A idéia é concretizar a promessa feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de apurar até o fim as denúncias de corrupção, ainda que isso signifique cortar na própria carne. O arsenal em preparação, segundo fontes envolvidas, inclui demissão de funcionários de alto escalão acusados de irregularidades, operações de busca e apreensão em larga escala, quebras de sigilo bancário e fiscal e até pedidos de prisão de envolvidos em corrupção. As ações serão adotadas de forma articulada entre Polícia Federal, Ministério Público e Poder Judiciário.

As medidas serão discutidas na reunião de emergência que o presidente fará com o seu núcleo político, hoje à tarde. Com elas, o governo espera retomar o poder de iniciativa não ficar mais a reboque da CPI dos Correios. Lula aproveitará a ocasião para finalizar a reforma ministerial e o enxugamento da máquina administrativa.

Entre os principais alvos das ações a serem desencadeadas estão o publicitário Marcos Valério de Souza, acusado de ser o homem da mala do mensalão, e o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, suspeito de montar esquema ilegal de arrecadação de fundos em empresas estatais, juntamente com o secretário-geral do PT, Silvio Pereira. O Ministério Público de Minas Gerais já pediu a quebra do sigilo bancário e fiscal de Valério. Idêntica providência foi tomada pelo MP de Goiás em relação a Delúbio, acusado ainda de enriquecimento ilícito e tráfico de influência.

PARTIDOS

Estarão também na mira das investigações dirigentes de partidos da base aliada, como Roberto Jefferson, ex-presidente do PTB, acusado de montar um esquema de propina em estatais nas quais indicou dirigentes. O deputado José Janene, líder do PP, é acusado de montar esquema semelhante.

Um dos focos da ação da PF e do Ministério Público serão as agências de publicidade que mais obtiveram negócios no governo Lula, tanto na Administração Direta como nas estatais. Entre elas estão a DNA e a SMPB, de Valério. Também será feito pente-fino nos contratos com outras grandes agências, como a Duda Mendonça, a Lew Lara e Matisse, que atendem a conta do Palácio do Planalto. O governo federal gastou em publicidade 232,9 milhões em 2003 e R$ 339 milhões, no ano passado, um acréscimo de cerca de 50% em apenas um ano. Os gastos das estatais com publicidade em 2004 somam mais de R$ 500 milhões. O ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, pedirá ao presidente e aos membros do núcleo político que não tentem resolver o problema da corrupção com um tiro de canhão. Quer evitar vícios de investigação que comprometam toda a estratégia.