Título: Governadores vetam acordo com Lula
Autor: Vera Rosa Luciana Nunes LeaL
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2005, Nacional, p. A6

Temer afirma que "não está nada fácil" para o PMDB aceitar a ampliação dos ministérios no governo

BRASÍLIA - A forte resistência dos governadores a uma aliança com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostra que a ampliação do espaço do PMDB na Esplanada dos Ministérios está mais difícil do que parecia. Encarregado de ouvir os sete governadores do PMDB, o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), admitiu ontem que não será fácil convencê-los. Não é só: a maioria dos diretórios estaduais veta o acordo por causa da proximidade das eleições de 2006 e das disputas regionais entre o PMDB e o PT. "Os governadores são contra e os diretórios também. Não estou achando nada fácil esse acordo", afirmou Temer. Dois dias depois de conversar com Lula no Planalto - na companhia do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) -, Temer disse ter sentido "grande preocupação" dos peemedebistas por ele consultados.

"Eu disse ao presidente Lula que com o PMDB não tem malandragem. Ajudaremos o governo, mas não precisamos de cargos. Não queremos de volta o carimbo do fisiologismo", insistiu o presidente do PMDB.

Temer conversará hoje com Renan e com o senador José Sarney (PMDB-AP) para definir os próximos passos da consulta às bases. "Sem levar o assunto para uma convenção, dificilmente chegaremos a um consenso", comentou Temer. "Em qualquer hipótese, o compromisso de apoiar a governabilidade estará de pé", amenizou Renan.

Da ala governista do PMDB, Renan e Sarney já estão representados nos dois ministérios sob o comando do partido: Previdência e Comunicações. A idéia de Lula, no entanto, é dobrar o espaço do PMDB na reforma ministerial. O presidente ofereceu ao partido quatro ministérios de peso, junto com os cargos a eles subordinados - no conhecido modelo "porteira fechada". Na lista estão Minas e Energia, Saúde, Cidades e Integração.

"O PMDB não está no governo, nunca esteve. Quem governa é uma parte do partido que tem maioria no Senado. Mas Renan individualmente não é o partido", disse o governador de Santa Catarina, Luís Henrique. "De novo vem essa história de mais ministérios para o PMDB. É sempre assim: na hora da dificuldade nos chamam", completou o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto.

Para ele, o PMDB deve garantir apoio ao governo, ajudando a evitar que a crise política contamine a economia. "Mas precisamos de cargo para isso?", questionou. Rigotto disse que teme "ficar pregando no deserto."

No almoço com Renan e Temer, Lula afirmou que pretende se reunir com os governadores para tentar diminuir suas resistências. Por enquanto, porém, todos se mostram irredutíveis. "A deliberação oficial do partido, aprovada em convenção, é para o afastamento do governo. Esta tem que ser a posição de todo peemedebista" , insistiu a governadora do Rio, Rosinha Garotinho. Seu marido, o ex-governador Anthony Garotinho, presidente do PMDB do Rio, é contundente nas críticas a Lula. "O presidente achou que, com esse convite, fosse capaz de abafar os escândalos e calar as ruas, mas isso não é possível", provocou Garotinho.

O PMDB governa sete estados (Rio, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Distrito Federal e Tocantins) e em todos enfrenta a oposição do PT. "Quer dizer que, para os petistas, o PMDB é bom em Brasília, mas não é bom nos Estados? O PT não integra nossos governos e o PMDB não integra o governo Lula. É uma questão de coerência", argumentou Luís Henrique. Antes de viajar para Washington, no sábado, o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, conversou com Temer e também se manifestou contra a aliança em troca de ministérios.