Título: A nova geração dos carros populares
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2005, Economia & Negócios, p. B13

Montadoras preparam lançamentos de modelos mais baratos que os atuais no Brasil. A indiana Tata também cobiça esse mercado

Uma nova leva de automóveis populares vai chegar ao mercado brasileiro. Das seis montadoras que atuam no segmento de compactos simples, quatro já têm projetos para carros de entrada, os mais baratos de cada marca. Alguns estão mais avançados, como o Logan, já confirmado pela Renault, e o substituto do Ka, a ser anunciado nos próximos meses pela Ford. Os outros estão em fase de desenvolvimento e podem enfrentar mais uma concorrente: a montadora indiana Tata também tem planos para o Brasil. As indústrias trabalham em projetos que possam recuperar a verdadeira filosofia do carro popular: um produto despojado de equipamentos sofisticados, mas com qualidade, eficiência, design criativo e preços inferiores a R$ 20 mil. Hoje, nessa faixa, o consumidor encontra só o Mille, modelo da Fiat que completou 21 anos.

O segmento de carros compactos e baratos é o que tem maior potencial de crescimento no Brasil e no mundo todo, diz o diretor da consultoria Roland Berger, Corrado Capellano. "Para lançar um produto com preço acessível e competitividade interna e externa, as montadoras precisam repensar os conceitos de desenvolvimento, produção, uso de material e distribuição", afirma.

Em julho, comitiva da Tata Motors estará no Brasil para encontros com fornecedores de peças, distribuidores e investidores. No mês passado, o vice-presidente da empresa, Rajiv Dube, confirmou interesse na América Latina, especialmente no Brasil. A Tata tem projeto para um carro de US$ 4 mil (R$ 10 mil, sem imposto).

"Se der certo, será um produto perfeito não só para o Brasil, como para todos os países em desenvolvimento", disse Dube. O Indica, carro da marca vendido por cerca de US$ 7,5 mil (R$ 18,7 mil), tem design e tamanho parecido com o dos modelos já disponíveis no País.

A Ford deve anunciar no segundo semestre a produção, na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), de um carro de entrada com preço inferior ao do Ka. O modelo está em fase final de projeto. Para obter aval da matriz para fabricá-lo no Brasil, a montadora precisou negociar a redução de custos com fornecedores de peças e com os próprios trabalhadores. Está previsto para ser lançado em 2007, com motor 1.0.

Outro que está na prancheta, ainda de forma embrionária, é o projeto Gol NF, da Volkswagen. O carro será desenvolvido em conjunto com a matriz alemã e destinado ao Brasil e a outros mercados emergentes. Deve ser mais barato que o Gol atual e ter design diferenciado.

Em outubro de 2003, quando participou do lançamento do Fox no Paraná, o vice-presidente mundial de Recursos Humanos da Volks, Peter Hartz, afirmou que a empresa pretendia desenvolver um carro pequeno para ser produzido na filial de Taubaté, interior de São Paulo.

Em junho, a direção da Volks na Europa afirmou que há estudos para um produto na faixa de 3 mil (cerca de R$ 9 mil, sem impostos). A filial brasileira já teria consultado alguns fornecedores de peças, mas não há data definida para o que seria um novo Fusca.

Parte dos investimentos da Ford e da Volks devem vir da recuperação de créditos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). O governo de São Paulo está devolvendo o imposto retido com exportações para aplicações em novos projetos. A Ford tem direito a R$ 347,9 milhões e a Volks, a R$ 259,5 milhões.

A Renault já confirmou a produção do Logan em São José dos Pinhais (PR), com investimentos de 150 milhões. O compacto será despojado (com poucos itens de eletrônica). Também chegará ao mercado em 2007, com motorização 1.0 e 1.4, o que deve tirar de linha as versões mais básicas do Clio.

O Logan já é produzido na Romênia pela subsidiária do grupo, a Dacia, e vendido no Leste Europeu por cerca de 5 mil (R$ 14,2 mil). As vendas do produto estão empurrando para cima o desempenho da marca naquela região e uma nova fábrica está nos planos da companhia.

Capellano defende que um carro popular deveria custar hoje entre R$ 11 mil e R$ 13 mil. Estudo da Roland Berger projeta que, se as montadoras fizessem lançamentos nessa faixa de preço, a demanda por carros novos aumentaria entre 3 milhões e 5 milhões de unidades ao ano. O cálculo se baseia no mercado de seminovos com preços próximos desse patamar.

Cada um dos projetos em desenvolvimento agrega inovações que vão reduzir consideravelmente os preços dos carros. "Mas nenhum deles é extremamente revolucionário", contesta Capellano. Para ele, o Brasil tem condições de liderar um novo conceito produtivo, juntando as boas experiências de cada empresa e, com isso, ampliar sua competitividade mundial.

O vice-presidente da GM mundial, Bob Lutz, responsável pela área de desenvolvimento de projetos, afirmou que a subsidiária brasileira também trabalha no projeto de um carro que poderia ser um dos mais baratos do mundo. "Eu aposto que vão conseguir", disse ele, que esteve no Brasil há duas semanas. Entre os modelos de entrada mais vendidos do País está o Celta, que esta semana ganhará versão bicombustível.

Rakesh Vaidyanathan, consultor baseado em São Paulo especialista em investimentos na Índia, diz que as empresas indianas estão capacitadas para desenvolver produtos de baixo custo e têm obtido retorno sobre o capital investido entre 35% e 45%, o que significa "um negócio lucrativo". Segundo ele, a Tata é uma das empresas comprometidas com a América Latina.