Título: Usineiros avaliam compra da Alcobrás
Autor: João Maurício Rosa, Moacyr Castro
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2005, Economia & Negócios, p. B6

Governo do Acre negocia venda de usina de álcool

O governo do Acre iniciou ontem uma negociação para transferir para o setor privado os ativos da Alcobrás, uma usina inaugurada há 16 anos que jamais produziu sequer um litro de álcool. Um grupo de usineiros de Ribeirão Preto, liderado pelo empresário Maurílio Biagi Filho, e de técnicos da Petrobrás, fizeram uma visita ontem à sede do empreendimento, no município de Capixaba, a 60 quilômetros da capital. O grupo foi acompanhado pelo secretário de Agricultura do Acre, Mauro Ribeiro.

A usina foi arrematada pelo governo do Acre em leilão realizado pelo Banco do Brasil. O lance chegou a R$ 2,7 milhões.

A Alcobrás tem uma história nada abonadora. Faz parte de um dos maiores escândalos financeiros do Acre. Foi financiado com recursos da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e gerou um rombo de R$ 150 milhões.

Segundo o empresário Biagi Filho, que é membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República, a compra feita pelo Estado pode viabilizar a produção de álcool no Acre. Ele afirmou que montar uma usina do porte da Alcobrás exigiria investimento de R$ 60 milhões.

Caso a opção seja transportar a estrutura para algum Estado da Região Centro-Sul, o custo chegaria a R$ 1 milhão, e sua reforma deve exigir, no máximo, R$ 4 milhões. Biagi Filho sugeriu a iniciativa e afirmou que o objetivo do governo do Estado é manter a empresa no Acre. "Finalmente, o Acre produzirá açúcar e álcool", afirmou. A principal proposta dos integrantes da delegação, todos ligados ao setor de produção de combustíveis, cana, açúcar, álcool e de equipamentos para usinas e destilarias, é promover o envolvimento de 650 famílias de assentados e fazendeiros vizinhos.

EM 2008

A sede da Alcobrás fica numa área de 11 mil hectares. O cronograma a ser proposto é que ainda este ano tenha início a formação do viveiro de mudas. Pelas avaliações dos usineiros, a multiplicação das mudas poderia começar em 2006. Com uma safrinha experimental em 2007, poderiam fazer alguns testes e a produção efetiva ocorreria em 2008.

A expectativa é que o projeto crie 2 mil empregos e tenha capacidade de moagem de 1,2 milhão de toneladas de cana. Em operação, a estimativa é que a indústria gire por ano R$ 70 milhões.

A usina foi inaugurada em 1989 pelo empresário paulista José Alves Pereira Neto. A festa de inauguração, lembram os acreanos, foi celebrada com um churrasco para 5 mil pessoas. Dois meses depois, Pereira Neto pediu falência. O Banco do Brasil, de onde saía o dinheiro dos projetos da Sudam, ficou com o prejuízo.