Título: Brasil crescerá menos, confirma BIS
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2005, Economia & Negócios, p. B5

Relatório do BC dos bancos centrais prevê alta de 3,6% do PIB em 2005 para o País, enquanto a média de emergentes é de 6,3%

O Brasil terá em 2005 a menor taxa de crescimento econômico entre os principais países emergentes e uma taxa de inflação superior à média geral das economias avaliadas pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS). Em relatório divulgado ontem, a entidade conhecida como o banco central dos bancos centrais aponta que a estimativa de aumento do PIB brasileiro para 2005 é de 3,6%, ante aumento médio de 4,3% na América Latina e 6,3% em média nos mercados emergentes. Pela avaliação do BIS, tanto a Argentina, com 6,8%, e o México, com 3,9%, crescerão mais do que o Brasil. A projeção do BIS é inferior à do governo, que esperava aumento do PIB de 4% neste ano. Índia, Coréia, Taiwan, Turquia, Rússia, Hungria, Polônia, República Tcheca e os países do Oriente Médio e África também apresentarão crescimentos mais expressivos. No caso da China, após 9,5% em 2004, o aumento do PIB neste ano será de 8,9. Para a Ásia, a projeção é de 7,2%.

O BIS afirma ainda que, apesar de ser o menor crescimento entre os países emergentes avaliados, o Brasil apresenta resultados superiores à sua média anual entre 1995 e 2003, quando o crescimento foi de 2,1%, ante 2% de aumento médio da América Latina. Em 2004, toda a América Latina cresceu a taxas superiores, atingindo 5,9%.

Quanto à inflação, as taxas brasileiras também destoam da média latino-americana e ficarão em torno de 6,5%, ante uma projeção de 6,3% para a região. Se a estimativa se confirmar, o Brasil não conseguirá atingir sua meta de inflação anual de 5,1%. Mesmo assim, a projeção mostra evolução em relação à média de 1995 a 2003, quando foi de 9,3%. Em 2004, essa taxa foi de 7,5%. No geral, os emergentes terão inflação de 5% em 2005, segundo as projeções do BIS. Os casos mais extremos são da Argentina, com 10%, e Rússia, com 11,6%.

Para 2005, o BIS aposta em crescimento elevado da economia mundial, mas a taxas inferiores às de 2004. Os países industrializados terão alta de 2,3% em seus PIBs, ante 2,5% em 2004. Nos Estados Unidos, o crescimento este ano poderá ser de 3,4%, ante 4,4% em 2004.

Mas o BIS alerta para a existência de sinais de que a pressão dos preços internacionais das commodities, além de fatores nos mercados financeiros, representem novos riscos para o cenário internacional. O primeiro risco é a possibilidade de que os preços do petróleo se mantenham altos ainda por alguns anos.

O aumento das taxas de juros de longo prazo pode ainda ter impacto nos gastos domésticos e os desequilíbrios fiscais, como nos EUA, podem chegar a um limite perigoso se continuarem crescendo.

No caso dos países emergentes, a situação internacional foi positiva para o aumento das exportações em 2004, ajudando a equilibrar as contas dessas economias. Uma das razões foi a forte demanda global por produtos diante do bom desempenho de Chi na e EUA. Como resultado, muitos países emergentes tiveram suas exportações aumentadas entre 20% e 40% em 2004 e o superávit agregado dos países em desenvolvimento chegou ao recorde de US$ 277 bilhões.

Os países emergentes estariam ainda mais resistentes a choques, segundo o BIS. Isso graças a uma maior demanda doméstica, o que significa que o crescimento dessas economias poderia se sustentar mesmo com o enfraquecimento do cenário externo. Segundo a avaliação, Brasil, Argentina e Venezuela foram exemplos em 2004 dessa tendência de fortalecimento da demanda interna.

Outro fator que explica a maior resistência dos países emergentes é a situação fiscal. O BIS menciona, por exemplo, os efeitos da lei de responsabilidade fiscal no controle dos gastos públicos no Brasil, evitando que programas fiscais sejam influenciados por eleições.

Mas os riscos também existem para os mercados emergentes, entre eles a eventual desaceleração do crescimento internacional. Outro risco é de que a inflação comece a dar sinais de retorno. Não por acaso, alguns países já elevaram suas taxas de juros no primeiro semestre do ano, como fez o Brasil. O BIS reconhece, porém, que a política monetária e fiscal no Brasil trouxe a inflação para baixo nos últimos anos.

A relação entre dívida pública e PIB também preocupa, ainda que o BIS admita que o Brasil reduziu essa taxa em 2004 pela primeira vez em uma década, chegando a 52%. Em 1997, a relação entre a dívida e o PIB era de 34%. Os casos mais extremos são os da Argentina, com 121%, e da Turquia, com 78%.