Título: Chineses estão desesperados pelo produto
Autor: Fabio Alves
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2005, Economia & Negócios, p. B4

Se a proposta da estatal China National Offshore Oil Corporation (CNOOC), de US$ 18,5 bilhões, pela petrolífera americana Unocal for rejeitada pelo governo dos Estados Unidos, sob a alegação de ameaça à segurança nacional, os chineses poderão reforçar os vínculos com países mal vistos pelos EUA, como Sudão e Irã, e investir na exploração na África e América Latina. "A exemplo de outros grandes países, a China quer participar da exploração de reservas comprovadas de petróleo", disse He Jun, consultor que assessora as estatais petrolíferas chinesas. "Mas, se o Ocidente tratar a China como uma ameaça, ela terá de encontrar o seu próprio caminho para suprir suas necessidades". A energia tem dominado a política externa chinesa nos últimos dois anos. No final de 2002, o presidente Hu Jintao visitou a América Latina, o Sudeste Asiático e a África com a missão principal de assegurar o fornecimento de uma energia que não passe por empresas americanas ou européias antes de chegar ao seu país. Este mês, ele fará sua terceira visita à Rússia para insistir na construção de um oleoduto que leve petróleo da Sibéria a Daqing, centro petrolífero do Nordeste chinês. Com isso, diminuiria a dependência do petróleo do Oriente Médio, dominado pelas empresas americanas. Há somente dez anos, a China exportava mais petróleo do importava, e em 2004 ela ultrapassou o Japão e tornou-se o segundo maior país importador, só atrás dos EUA. Mas ela usa o produto de modo ineficiente. A China consome três vezes mais energia, por dólar gasto na produção, do que a média mundial, e os gastos são crescentes, com a ampliação da frota automobilística, as cidades que não param de se expandir e com a construção de superestradas ao estilo americano. Como parte do esforço para diminuir a dependência do petróleo distribuído por empresas americanas, a China assinou um contrato preliminar para comprar US$ 70 bilhões em petróleo e gás natural do Irã. Na verdade, Pequim mandou a campo a CNOOC e as outras duas grandes estatais do setor, Sinopec e PetroChina, para assegurar a exploração de reservas comprovadas. Isso tem causado alguns problemas. Por exemplo, Pequim foi contra a imposição de sanções ao seu parceiro Sudão por causa das atrocidades cometidas em Darfur, e impediu a discussão do programa nuclear do Irã no Conselho de Segurança da ONU. E, para melhorar as relações com Moscou, os chineses concluíram uma longa disputa fronteiriça em termos favoráveis aos russos. Em troca, a Rússia prometeu aumentar a remessa de petróleo à China por ferrovia, e recomeçou as discussões sobre o oleoduto de Daqing. Este ano, a China começou a construir uma reserva estratégica de petróleo na província de Zhejiang. A primeira fase compreende a construção de 52 tanques com capacidade de 25 milhões de gasolina cada. Isso daria para tocar a economia e as Forças Armadas por três meses, no mínimo. Segundo especialistas, esse esforço está custando caro para os chineses, que estão pagando acima do valor por ativos estrangeiros. Exemplos disso são o oleoduto ligando a China ao Irã, Casaquistão e Rússia, e um projeto de oleoduto no Brasil, financiado por Pequim. Com isso, o petróleo produzido por essas fontes custaria o dobro ou o triplo do valor de mercado. Para Wenran Jiang, especialista em política externa chinesa da Universidade de Alberta, o que está por trás de tudo é a questão da segurança. "O petróleo, para os chineses, é uma questão de sobrevivência do regime". disse. Chineses estão desesperados pelo produto Se não conseguir comprar a Unocal, China buscará o petróleo em qualquer lugar possível Joseph Kahn The New York Times PEQUIM