Título: IPC-Fipe tem a primeira deflação em quase 2 anos
Autor: Célia Froufe Francisco Carlos de Assis
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2005, Economia & Negócios, p. B3

Índice registra queda de 0,15% na terceira quadrissemana deste mês, influenciado pelos alimentos e pelos transportes, e reforça a expectativa de deflação para junho

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) registrou na terceira quadrissemana deste mês queda de 0,15%. É a primeira vez em quase dois anos que o índice aponta deflação. A última vez que o indicador ficou negativo foi na primeira quadrissemana de agosto de 2003, quando o IPC estava em - 0,01%. A deflação verificada na terceira pesquisa do mês surpreendeu o coordenador do IPC-Fipe, Paulo Picchetti, e também os analistas do mercado financeiro, que estimavam variação de -0,04% a 0,10%, conforme pesquisa da Agência Estado. "Ninguém previu certo", afirmou Picchetti.

Ele acredita que o IPC de junho fique em um patamar próximo ao apresentado na terceira quadrissemana de junho. Até a semana passada, Picchetti estimava estabilidade dos preços na capital paulista ao final do mês. "É mais provável que o mês feche com deflação, mas é impossível a esta altura prever um número", disse.

A história da inflação no período é muito semelhante à da segunda quadrissemana de junho, observou o coordenador do IPC-Fipe. Ele disse que o destaque é o comportamento baixista dos preços do setor agrícola. "É mais do mesmo, só que de forma muito mais intensificada." Apesar da surpresa com a deflação, Picchetti mantém a expectativa de que o IPC encerre o ano acumulando uma alta de 5% a 5,5%.

Os produtos agrícolas voltaram a ser destaque de baixa no IPC-Fipe da terceira quadrissemana de junho. Dos 20 itens que apresentaram a maior queda no índice, 19 estão de alguma forma atrelados ao setor agropecuário. Juntos, eles representaram 0,46 ponto porcentual negativo na inflação da capital paulista no período. "Se não fosse esse comportamento, a inflação seria de 0,31%, que é o patamar real da inflação que estamos vivendo", disse o coordenador do IPC-Fipe.

De acordo com ele, a variação negativa de 0,15% deve ser lida como uma devolução da alta dos preços, ocorrida ao longo do primeiro semestre, em função de choques de oferta dos itens agrícolas ocasionados por variações climáticas. Na terceira quadrissemana, a alimentação fechou com deflação de 1,14%.

O subgrupo dos alimentos que apresentou a maior deflação na terceira quadrissemana foi produtos in natura, com queda de 4,28%. Apesar da redução acentuada, este subgrupo ainda acumula uma inflação mais forte do que a do IPC, quando é observado o período de 12 meses. De junho de 2004 até maio de 2005, o IPC cheio acumula alta de 7,71%, ante 9,52% dos preços dos produtos in natura. O grupo transporte recuou 0,33% na terceira quadrissemana deste mês.