Título: Veto de governadores irrita Lula
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2005, Nacional, p. A10

Presidente não gostou da recusa dos peemedebistas a oferta de mais espaço no governo e criticou estratégia do próprio Planalto

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou ontem contrariedade com o veto dos sete governadores do PMDB ao acordo proposto por ele para a ampliação do espaço do partido na Esplanada dos Ministérios. Em conversas com ministros, a portas fechadas, Lula reclamou não só da cúpula do PMDB como da estratégia adotada pelo próprio governo. Para o presidente, os articuladores palacianos deveriam ter sondado mais o terreno peemedebista antes de dar a coalizão como favas contadas. Lula disse que, diante da resistência dos governadores do PMDB - agravada pelas afirmações do presidente do partido, Michel Temer, considerando o acordo muito difícil -, o governo ficou exposto num momento em que tem feito de tudo para superar a crise política. O presidente também se irritou com o "vazamento" da informação de que ofereceu quatro ministérios ao PMDB.

No gabinete de crise do Planalto, a avaliação foi a seguinte: o governo passou a impressão de estar totalmente desesperado e de que precisa do PMDB para se salvar. Lula ficou ainda mais aborrecido por achar que um pedaço do PMDB não parece disposto a construir a unidade do partido, apesar de fazer discurso diferente quando está frente a frente com ele.

Foi por sugestão dos próprios peemedebistas que, no almoço de sexta-feira com Temer e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Lula repetiu que, mesmo com o acordo, não exigiria do PMDB aval ao projeto de reeleição, em 2006. Fez isso para tirar do caminho qualquer obstáculo ao casamento de papel passado com o partido. Sabia das resistências, mas achou que, curiosamente, elas pareceram muito maiores depois da conversa de sexta.

Para apagar o incêndio, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), entrou em cena logo cedo. Num script combinado, 20 dos 23 senadores do PMDB divulgaram nota reiterando apoio à governabilidade, para evitar que a crise política provocada pela avalanche de denúncias de corrupção contamine a economia.

"A crise não interessa ao Brasil, aos governadores do PMDB e a ninguém", disse Mercadante. "Assim como não interessa a ninguém que um processo parlamentar político contamine a economia, o crescimento, o emprego e a governabilidade. Precisamos ter responsabilidade pública."

Pré-candidato ao governo paulista, Mercadante chegou a falar na possibilidade de o PT apoiar candidatos do PMDB nas sucessões estaduais, embora essa hipótese seja muito remota. "Na medida em que o PMDB demonstra boa vontade com o pacto de governabilidade, tudo fica mais fácil para que o PT faça o mesmo gesto nos Estados", afirmou o senador. SP CRISE NO GOVERNO LULA q O Planalto encurralado Meirelles se antecipa ao STF e abre sigilo bancário Sheila D'Amorim Mariângela Gallucci BRASÍLIA

Os advogados do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, se anteciparam ao pedido de quebra do sigilo bancário de seu cliente e entregaram ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) extratos de suas contas e das suas empresas.

Na manifestação protocolada no STF, os advogados criticaram a decisão do procurador-geral da República, Claudio Fonteles, de pedir a abertura dos dados bancários antes mesmo de receber o resultado das diligências requisitadas em maio, que incluem a quebra do sigilo fiscal. "Volta o Ministério Público a requerer, açodadamente, a quebra do sigilo bancário, medida desnecessária e ilegal", sustentaram.

Amanhã, Meirelles participa de uma audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara. Oficialmente, ele foi convocado para cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal - que determina que o presidente do BC deve, periodicamente, prestar contas ao Congresso sobre o custo fiscal das operações da autoridade monetária. No entanto, ele deve ser questionado sobre as denúncias de evasão de divisas, sonegação, lavagem de dinheiro e crime eleitoral, que lhe renderam o inquérito no STF.

Meirelles sabe que dificilmente passará pelo Congresso sem ter de se defender. Por isso, decidiu não participar ontem da Assembléia-Geral do Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Suíça.

De volta a Brasília, ele se reuniu com os técnicos do BC e com seus advogados. Negou que tenha antecipado o retorno por causa do inquérito no Supremo e, por meio de seus assessores, asseverou que está "preparado tecnicamente para a audiência, evento importante para o BC no Congresso".