Título: 'A barganha não é o caminho'
Autor: Christiane Samarco, Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2005, Nacional, p. A9

Para Rigotto, PMDB deve quebrar fisiologismo e dizer não a Lula

O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, é categórico: o PMDB deve apoiar o governo, mas não aceitar novos cargos. Contrariado com o movimento de aproximação feito pela cúpula do PMDB na direção do Planalto, ele diz que é por causa de exemplos assim que seu partido não consegue se livrar do carimbo de fisiológico. "A barganha não é o caminho", afirma. "Mas já vi que vou ficar de novo pregando no deserto." Por que o sr. ficou contra a aliança com o governo?

Sou a favor de um pacto de governabilidade, do apoio do PMDB ao governo no Congresso, com o esclarecimento de todas as denúncias. Não se pode deixar nada debaixo do tapete. O Brasil precisa caminhar, necessita de uma agenda positiva e o PMDB tem responsabilidade para com o País. Não podemos deixar que a crise contamine a economia. Não vejo, no entanto, que o PMDB precise de cargo para dar esse apoio.

Mas a ala governista do seu partido acha que sim...

Fui voto vencido nas etapas anteriores e já vi que vou ficar de novo pregando no deserto. O Temer (Michel Temer, presidente do PMDB) me ligou e disse: "Olha, Rigotto, qualquer decisão vai passar por um debate que não tenha dois grupos." O problema é que não se consegue ter o PMDB unido. Há uma posição muito forte do partido, aprovada em convenção.

Deve haver outra convenção?

Eu não estou aqui para atrapalhar nem para ficar batendo cabeça na parede, mas a minha posição é essa. A hora é muito mais para qualificar o ministério do que para essa relação de formar base majoritária em troca de cargos. A barganha não é o caminho. Não acho positiva essa relação baseada em mais espaço no governo.

O que o sr. vai dizer ao presidente Lula?

Já disse ao presidente Lula que, na minha opinião, o PMDB deveria apoiar a governabilidade e discutir os projetos sem disputa de espaço. Essa história também não tem feito bem para o governo. O presidente quer conversar, dizendo que a decisão não pode ter um grupo contra e outro a favor. Tenho sido procurado para ajudar o governo e, em todos os momentos que pude, ajudei. Não indiquei ninguém para o governo e não vou participar da indicação de cargos.

As eleições de 2006 atrapalham o acordo entre o governo e o PMDB?

Não quero que minha posição pareça oportunista. Teremos candidato próprio a presidente da República, sem dúvida. O presidente Lula sabe disso. Portanto o que digo não tem nada a ver com uma coisa regional nem com as disputas de 2006.