Título: Vinte senadores do PMDB querem mais espaço no governo
Autor: Christiane Samarco, Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2005, Nacional, p. A9

Da bancada de 23, só 3 não assinaram documento que tenta salvar acordo para aumentar número de ministérios do partido

Nota oficial da bancada do PMDB, assinada por 20 dos 23 senadores do partido, respondeu positivamente à convocação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por um "pacto de governabilidade". O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi à luta para tentar salvar o acordo proposto a seu partido por Lula. Na semana passada, o Planalto ofereceu mais ministérios ao PMDB em troca de apoio no Congresso, mas a proposta enfrenta resistência de governadores e deputados. Renan e o líder Ney Suassuna (PB) apressaram a consulta aos 23 senadores. "A bancada de senadores do PMDB, de maneira amplamente majoritária, resolve reiterar o apoio à governabilidade no sentido de evitar que a crise política, ora em curso, atinja as instituições e contamine a economia, prejudicando a continuidade do desenvolvimento do País", diz o documento de nove linhas. Na condição de signatário que ajudou a redigir a nota, Renan defendeu claramente "o movimento congressual" contra o "desembarque" do PMDB do governo "neste momento dramático", puxado pelos senadores.

"Se com o PMDB a maioria do governo no Congresso já é precária, é o caso de perguntar a quem interessa o caos administrativo, a tragédia econômica e a ruína do País?", ponderou Renan, ao prever um quadro de "ingovernabilidade" caso o partido saia do governo. Mais contundente, um dos oito senadores peemedebistas que participou da reunião em que se discutiu os termos da nota não hesitou em afirmar que, se o partido recusar a proposta do presidente Lula, "acabou o governo".

Não é o que pensam o presidente nacional do partido, deputado Michel Temer (SP), nem boa parte dos demais 84 deputados peemedebistas. Temer minimizou o tom dramático de Renan, garantindo o apoio do PMDB à governabilidade independentemente de a maioria do partido aceitar ou não a proposta de Lula pelo pacto.

A bancada da Câmara só deverá se reunir hoje à tarde para tomar uma posição, mas Temer adiantou ontem mesmo o que acredita ser a posição majoritária. Depois de ouvir informalmente os sete governadores e os diretórios regionais, ele garante que a decisão da maioria será não aceitar mais cargos no governo.

De volta de Paris, o senador José Sarney (PMDB-AP) entrou firme na articulação para ajudar o Planalto. A cúpula governista do PMDB, que se reuniu ontem à noite na casa de Renan, aposta no efeito positivo da nota dos senadores sobre as demais instâncias partidárias e sustenta que a manifestação do partido em resposta a Lula fique restrita às bancadas e à executiva nacional.

A ala aliada ao governo argumenta que falar em convenção nacional agora é "não querer decidir", pois reunir convencionais de todo o Brasil consumiria muito tempo. Temer, porém, avalia que só há duas formas para tomar a opinião do conjunto do partido, atendendo ao próprio Lula, que não quer o PMDB dividido no governo. "Ou se faz a convenção nacional ou se reúne o conselho político, composto por cerca de 60 peemedebistas", sugere.

Nos bastidores, a cúpula governista, que tem se entendido bem com a ala de oposição, cobra o cumprimento do compromisso interno em torno do qual a unidade vinha sendo construída. Dizem que a fórmula de excluir a candidatura própria do acordo com Lula foi proposta da oposição, acatada pelos governistas, para tornar possível o entendimento. "O combinado para construir a unidade interna era isso; falta cumprir o script acertado", cobra um importante líder da ala palaciana.

Segundo Temer, porém, nem mesmo com a questão eleitoral fora do acordo, governadores e diretórios estaduais aceitam "colar mais o partido ao governo", certos de que, na prática, isto vai inviabilizar a candidatura do PMDB ao Planalto no ano que vem.