Título: 'Quero tirar mensalão a limpo', diz Lula a Bastos
Autor: Denise Madueno, Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2005, Nacional, p. A6

Presidente afirma que quer 'saber tudo' sobre os pagamentos feitos a parlamentares; ministro informa que PF já investiga os saques feitos por Marcos Valério

Em reunião realizada ontem com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e com o controlador-geral da União, Waldir Pires, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou a disposição de apurar a fundo todas as denúncias sobre pagamentos a parlamentares. "Quero tirar a limpo essa história do mensalão", afirmou o presidente durante o encontro. "Quero saber de tudo". O ministro da Justiça disse, no encontro, que, apesar das turbulências, o País está longe de uma crise institucional. "O Brasil tem de deixar de ser um país de leis e se transformar num país de instituições. Só assim vamos combater a corrupção no Brasil", afirmou. Lula tem tido reuniões diárias com o chamado "gabinete de crise", formado por Thomaz Bastos, Antonio Palocci (Fazenda), Luiz Gushiken (Comunicação do Governo), além dochefe de gabinete, Gilberto Carvalho.

Segundo informou Thomaz Bastos, a Polícia Federal já está investigando os saques bancários feitos pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, sócio das agências de publicidade SMPB e DNA, ambas de Belo Horizonte. Uma investigação sobre as operações financeiras das duas agências foi aberta na semana passada, quando a ex-secretária do empresário, Fernanda Karina Somaggio, confirmou denúncias de que ele seria um dos operadores do mensalão.

De acordo com a ex-secretária, o empresário costumava carregar malas de dinheiro e tinha contatos freqüentes com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e com o secretário-geral do partido, Sílvio Pereira. Registros do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) indicam que entre julho de 2003 e maio de 2005 as agências de Marcos Valério fizeram saques em dinheiro vivo num total de quase R$ 21 milhões.

Thomaz Bastos explicou que o inquérito da PF se restringe às atividades financeiras de Valério, e não atinge o mensalão. "Não tenho a menor idéia disso (o mensalão). Não cabe à Polícia Federal investigar. É atribuição do Supremo Tribunal Federal", disse o ministro. Bastos lembrou que em junho de 2003 o Banco Central e o Ministério da Justiça assinaram medida que obriga os bancos a informar ao Coaf todos os saques acima de R$ 100 mil: "Nosso combate à corrupção vem lá de trás", completou.

Bastos confirmou que a PF desencadeará esta semana uma série de operações contra suspeitos de corrupção, como adiantou ontem o Estado, mas evitou classificá-las como uma ofensiva do governo. "Não esperem nenhuma hecatombe, porque não vai haver", disse ele.

Além do inquérito aberto em Minas Gerais sobre as atividades de Valério, a PF já instaurou outros dois processos. Um no Rio de Janeiro, para apurar irregularidades no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), e outro em Brasília, para as denúncias que envolvem os Correios. "A PF está investigando com planejamento, inteligência e calma", afirmou.