Título: Conselho de Ética espera hoje mais revelações de Karina
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2005, Nacional, p. A5

Deputados esperam que ex-secretária de Valério conte novos detalhes sobre as malas de dinheiro destinadas a políticos

Testemunha que mais avançou nos detalhes de um suposto esquema de pagamento de propina a deputados governistas, depois da denúncia feita pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), a secretária Fernanda Karina Somaggio depõe hoje no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. Fernanda trabalhou entre abril de 2003 e janeiro de 2004 com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado por Jefferson de distribuir o dinheiro entre parlamentares do PP e do PL. A expectativa dos integrantes do conselho é que Fernanda dê mais informações sobre a retirada e o transporte de altas somas de dinheiro, levadas, segundo ela, em malas, de Belo Horizonte para Brasília. Marcos Valério é amigo do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, acusado por Jefferson de organizar o pagamento da propina. Segundo o deputado petebista, Valério também levou R$ 4 milhões à sede do PTB, para a campanha municipal do ano passado. O dinheiro não foi declarado à Justiça Eleitoral. Valério nega todas as acusações. O empresário está processando Fernanda Karina, a quem acusa de extorsão.

"O quebra-cabeça está se fechando. Pelo que a secretária tem dito, ela dá credibilidade à denúncia do Roberto Jefferson", diz o deputado tucano Gustavo Fruet (PR). O parlamentar tenta obter a quebra de sigilo bancário de Valério e de suas duas agências de publicidade, DNA e SMPB. Documentos do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) comprovam que, entre 2003 e 2005, foram feitos saques das contas das duas agências no Banco Rural somando R$ 20,9 milhões. Como o conselho não tem poder para quebrar sigilos, é preciso que a presidência da Câmara consulte o plenário e depois faça a solicitação à Justiça. "Não é pedido da oposição. A quebra não significa que dados serão divulgados, mas sim investigados", diz Fruet.

Já o petista Orlando Fantazzini (SP) cobra a apresentação de provas. "Se a secretária repetir o que tem dito nas entrevistas sem trazer provas, o conselho vai ficar no mesmo lugar. Até agora, ela fez deduções. Ela acha que as malas tinham dinheiro e acha que o dinheiro ia para os deputados. Mas achar não vale", diz Fantazzini.

Depois de dar uma entrevista revelando detalhes sobre o dinheiro sacado, de reuniões de Valério com políticos petistas e de viagens a Brasília onde seriam feitos os pagamentos, Karina voltou atrás em depoimento à Polícia Federal. Dias depois, confirmou tudo que dissera antes e disse que tinha recuado por ter recebido ameaças. "Nosso foco é apurar se há relação entre o Marcos Valério e o mensalão. Queremos ouvir os detalhes, as minúcias", afirma o presidente do conselho, deputado Ricardo Izar (PTB-SP).

Os depoimentos no Conselho de Ética serão interrompidos quando começar o recesso parlamentar, que depende da aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Segundo Izar, se a lei não for aprovada até sexta, o conselho vai aproveitar a próxima semana para ouvir outras testemunhas, entre as quais a ex-mulher do deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP), Maria Christina Mendes Caldeira. Jefferson acusa Costa Neto de "receber e distribuir" o mensalão a deputados do PL. A investigação do Conselho de Ética foi aberta depois de representação de Costa Neto, que acusa Jefferson de injúria e pede que seja cassado.

A agenda do conselho prevê ainda os depoimentos dos deputados do PP Pedro Henry (MT) e José Janene (PR), acusados por Jefferson de receberem o mensalão. Também falará ao conselho o líder do PTB na Câmara, José Múcio. Segundo Jefferson, Múcio foi pressionado por deputados do PL e do PP a aceitar o pagamento de propina e recusou.