Título: Relator da CPI vai pedir quebra de sigilo das agências de Valério
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2005, Nacional, p. A4

Serraglio pedirá vistoria em fazendas do publicitário para checar alegação de que compra de gado explica saques de R$ 20,9 milhões

O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), pedirá hoje à comissão que quebre o sigilo bancário, fiscal e telefônico das agências de publicidade DNA e SMPB, do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o principal operador do mensalão. Serraglio solicitará também que a CPI faça vistoria nas fazendas de Valério para verificar se os R$ 20,9 milhões sacados de contas das agências entre julho de 2003 e maio deste ano foram mesmo usados para compra de gado, como ele alega. Valério, cujas empresas cuidam da publicidade dos Correios, vai depor na CPI na semana que vem. Serraglio ressaltou que as investigações da CPI parecem reforçar a denúncia do presidente licenciado do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), de pagamento de mesada de R$ 30 mil para que parlamentares votassem com o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Jefferson foi quem acusou Valério de ser o operador da mesada.

O relator frisou que a Câmara e o Senado ainda analisam a instalação de uma CPI específica para o mensalão, mas avisou: "Nunca tivemos receio de avançar em torno do mensalão. Estamos esperando uma decisão sobre essa CPI. Se isso não acontecer, vamos naturalmente investigar o mensalão." E reforçou: "Há muitos ecos que dão cada vez mais credibilidade ao discurso do Roberto Jefferson."

COAF

Para o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), há grandes indícios de irregularidade nas transações feitas pelo publicitário. "É muito dinheiro para comprar vaca e boi. Essa deve ser somente uma das fontes do mensalão. A corrupção nas estatais tem relação direta com o pagamento da mesada."

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), sugeriu ontem que a denúncia seja averiguada por uma CPI específica da Câmara. "Nenhum líder do Senado defende a tese de trazer para a CPI dos Correios a questão do mensalão. É um problema de decoro parlamentar dos deputados."

A CPI também vai requisitar o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que indica que nos últimos dois anos saíram R$ 16,5 milhões da conta da SMPB em agência do Banco Rural de Belo Horizonte e R$ 4,4 milhões da conta da DNA na mesma agência. "Não é algo comum alguém sacar não sei quantos mil reais por dia. Essa movimentação é inusitada", argumentou Serraglio. Integrantes da CPI querem ainda convocar a direção do Coaf para, numa sessão secreta, apresentar uma lista com os responsáveis pelos saques acima de R$ 100 mil.

O PSDB pretendia pedir ontem ao Ministério Público o bloqueio dos bens de Valério. O senador José Jorge (PFL-PE) requereu à CPI dos Correios que peça ao Ministério da Agricultura cópias de todos os atestados de vacinação e guias de trânsito animal emitidos para rebanhos de Valério ou de sua mulher, Renilda Maria Santiago Fernandes de Souza. Com esses documentos, os integrantes da CPI pretendem ter um levantamento completo sobre o rebanho do publicitário e sobre as datas em que o gado teria sido comprado.

Nesta semana, a CPI dos Correios vai ouvir oito pessoas que estariam envolvidas no esquema de corrupção da estatal, incluindo Roberto Jefferson. Serraglio adiantou que os diretores dos Correios Antonio Osório (Administração), Eduardo Medeiros (Tecnologia) e Maurício Madureira (Operações), que vão depor amanhã, terão de ser novamente convocados para explicar os contratos da estatal com as empresas de Valério. Os contratos ainda não foram enviados pelos Correios e, por isso, o relator acredita que faltarão elementos para inquirir os diretores da estatal.

SINDICÂNCIA

Valério será ouvido pelos integrantes da Comissão de Sindicância da Câmara amanhã, a portas fechadas. Ele deporá um dia depois de sua ex-secretária Fernanda Karina Somaggio.

Além de Valério, a Comissão de Sindicância deve ouvir amanhã o presidente do PT, José Genoino, e o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo.