Título: Ex-aliado acusa Pedro Henry de comprar candidatos em Cáceres
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2005, Nacional, p. A8

Deputado acusado de ser um dos operadores do mensalão teria pago a adversários de seu irmão para desistirem da disputa à prefeitura

O deputado Pedro Henry (PP-MT), acusado de ser um dos beneficiados do mensalão e de tentar cooptar parlamentares na Câmara em troca de dinheiro, é apontado em seu Estado como responsável por um plano montado nas eleições de 2004 para compra da desistência de candidaturas adversárias com o objetivo de eleger o irmão, Ricardo Henry, prefeito de Cáceres - sua base eleitoral. O deputado - que depõe hoje à Comissão de Ética sobre a acusação de receber mensalão - nega. Membro da direção do PSDB em Cáceres, o ex-policial militar Altamiro Ramos da Cruz, de 44 anos, é um ex-aliado de Henry que, em 2004, abandonou a candidatura pela reeleição do então prefeito tucano Túlio Fontes para trabalhar na campanha do adversário Ricardo Henry (PP). Sua função: desarticular o maior número de candidaturas da chapa de Fontes - PSDB e PFL.

Dizendo ter sido traído, Cruz decidiu contar o que sabe. "O Brito (Hamilton Gurjão Brito, um dos responsáveis pelo escritório do deputado em Cáceres) me disse, em uma sala do escritório do Pedro Henry, que eu tinha bom trânsito no PSDB e poderia atuar na desarticulação dos candidatos a vereador. Perguntei como seria essa desarticulação. E ele me disse que teria que ser com dinheiro." O escritório político citado é a sede do Diretório Municipal do PP.

Os valores da negociação coordenadas por ele eram baixos. "Eu tinha um valor para negociar que era de R$ 3 mil a R$ 5 mil. Passando disso, era com o Brito, com o Ricardo ou com o próprio Pedro Henry." No relato de um tucano local, as propostas chegaram a R$ 30 mil com alguns parlamentares.

Pedro Henry afirmou não lembrar o nome de Altamiro Ramos da Cruz e disse que todas as acusações são infundadas. Ele qualificou as declarações como "oportunismo político". Brito diz que Cruz foi contratado para trabalhar como motorista da campanha e que suas afirmações não têm credibilidade. O prefeito Ricardo Henry disse que nunca autorizou qualquer ato irregular durante sua campanha. Segundo ele, Cruz era apenas um motorista e nem foi pago do caixa da campanha.

Dos 20 candidatos a vereador dos dois partidos(14 do PFL e 6 do PSDB), o emissário disse ter mantido contato com pelo menos 11 deles. "Andava no meu Fusca de cima para baixo, fiz diversas ligações do meu celular e do telefone do escritório do Pedro Henry", relata. Dos dois partidos, apenas o PFL conseguiu eleger 3 parlamentares. O PSB, outro partido da oposição que teve pelo menos duas baixas de candidaturas, não conseguiu eleger ninguém.

O emissário tucano do PP afirmou ter ouvido mais de uma vez que o dinheiro da compra das desistências viria de Brasília, trazido por Pedro Henry. "As fontes de onde ele conseguia o dinheiro eu não sei, mas vinha de Brasília. Várias vezes perguntei sobre o dinheiro e o Brito dizia que ele estava chegando de Brasília e que não era para me preocupar com isso." E acrescentou: "Um dia o Brito me ligou pedindo para eu ir ao escritório. Ele me disse que o deputado já estava no aeroporto e que o dinheiro havia chegado." Apesar de ter contatado a metade dos candidatos, Cruz diz que o dinheiro chegou com atraso de 30 dias, o que dificultou a concretização dos planos. "Quando chegou o dinheiro, fui atrás das pessoas com quem tinha conversado, mas ouvi muitos não. Só consegui negociar com dois candidatos e fechar com um." Os dois candidatos que Cruz cita são Wilma Araújo e Milene Garcia Sversuth, ambas do PFL. A primeira recebeu o dinheiro e a segunda decidiu conversar diretamente com Ricardo. Depois disso, desistiu da candidatura e foi indicada para uma coordenação na Secretaria de Turismo, após Ricardo Henry ser eleito prefeito. Outro candidato do PFL que desistiu da disputa foi Odenir Neri. "Mas esse não recebeu de mim." Os dois não foram encontrados para falar.

O deputado afirmou que as acusações são uma estratégia dos opositores para aproveitar a "moda de denuncismo" que vive o País. "São adversários querendo tirar proveito da situação. Não há nenhuma prova. Nunca levei dinheiro para Cáceres nem participei de esquema algum. Se eles têm provas, devem oficializar a denúncia", diz Henry. Cruz diz ter poucos elementos para provar o que fala, mas está disposto a contar o que sabe em Brasília. "Minhas provas são os sigilos telefônicos do meu celular e do número do escritório de Pedro Henry e meu contrato de trabalho, que ficou com eles." Suas histórias, porém, são contadas com riqueza de detalhes e foram confirmadas por quatro envolvidos, de diferentes partidos, e também por dois políticos locais que ouviram relatos iguais de interlocutores do grupo de Henry. Eles não querem divulgar os nomes por temer perseguições.

'EU ERREI'

A confirmação mais importante foi dada pela professora desempregada Wilma Araújo, que desistiu de sua candidatura no meio da campanha. Em entrevista ao Estado, Wilma de início negou, mas acabou confessando que recebeu R$ 3 mil de Brito e Cruz em troca de sua desistência. "Eu sei que errei. Mas vai ser melhor assim, pois quem erra tem que pagar as conseqüências e estou disposta a pagar", diz Wilma, que mora numa casa pobre na periferia de Cáceres.

O ex-aliado, que decidiu relatar os esquemas dos irmãos Henry, diz que fez isso após não ter o acordo de pagamento pelos serviços cumprido. "Eu receberia R$ 700, ganharia uma coordenação na prefeitura e eles iriam consertar meu carro (um Fusca)." Só a primeira parte foi cumprida, segundo ele.

Outro parceiro político, que também diz ter sido traído por Henry, é o ex-vereador e candidato a prefeito derrotado do PSB Francisco da Silva Leite. Da Silva, como é conhecido, acusa o deputado Pedro Henry de tentar comprar, no ano passado, sua candidatura por R$ 500 mil. Pedro Henry afirmou que Da Silva não tem credibilidade para fazer tais acusações.