Título: Irmão diz que prefeito reunia provas
Autor: Eduardo Kattah, Raquel Massote
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2005, Nacional, p. A8

Médico afirma que sua ex-cunhada alertou Celso Daniel sobre corrupção

O médico João Francisco Daniel declarou ontem que seu irmão, o prefeito de Santo André Celso Daniel (PT), lhe contou que "estava enfrentando sérios problemas" - referindo-se a suposto esquema de corrupção em setores da administração - e "para sua segurança estava armazenando dados" sobre empresários que teriam envolvimento em arrecadação de propinas. Em depoimento de 3 horas no Ministério Público, João Francisco confirmou que, pouco tempo antes do assassinato, sua ex-cunhada, Miriam Belchior - assessora especial do presidente Lula - alertou Celso Daniel sobre denúncias de irregularidades na prefeitura. "Miriam me procurou para contar sobre uma conversa com o Celso", relatou o médico. "Ela disse ao meu irmão que não gostava da forma de agir do Klinger e do Sérgio, que não estava de acordo com o que estava acontecendo em Santo André e que iria sair da prefeitura." Essa conversa teria ocorrido em setembro de 2001, quatro meses antes da execução do prefeito.

Miriam trabalhava na administração Celso Daniel, seu ex-marido. Klinger Oliveira Sousa, ex-vereador (PT), era secretário municipal de Governo. O empresário Sérgio Gomes da Silva, citado por João Francisco, é acusado pela promotoria criminal de ter sido mandante da morte do prefeito. Segundo o Ministério Público, Gomes teria planejado o crime porque Celso Daniel havia decidido dar um basta nas fraudes.

Os promotores convocaram João Francisco para depor em procedimento sobre dossiê de 80 páginas que Gilberto Carvalho, secretário particular de Lula, admitiu ter entregue a Celso Daniel, no início de 2000. Na época, Carvalho exercia o cargo de secretário de Comunicação de Santo André. O documento contém dados sobre a evolução patrimonial de Sérgio Gomes e de Ronan Maria Pinto, que também teria sido favorecido pelo esquema. Ronan e Gomes negam.

João Francisco confirmou os termos do primeiro depoimento prestado ao Ministério Público, em maio de 2002. Na ocasião, ele revelou ter ouvido de Gilberto Carvalho que José Dirceu, então presidente do PT, seria destinatário de parte do dinheiro do esquema de propinas para financiamento de campanhas eleitorais do partido. Dirceu está processando João Francisco. O ex-ministro da Casa Civil foi beneficiado pelo Supremo Tribunal Federal, que arquivou pedido da Procuradoria-Geral da República para investigar a denúncia.

O criminalista Adriano Sales Vanni, que defende Sérgio Gomes, reagiu. "Pelo que me lembro é a primeira vez que ele (João Francisco) fala isso, acho estranho porque com o passar dos anos vai lembrando coisas novas, ao invés de esquecer. Já se passaram mais de 3 anos da morte do prefeito e só agora ele vem falar isso?" O ex-vereador Klinger não quis comentar.