Título: PMDB pode rifar Jucá e Eunício por mais ministérios
Autor: Christiane Samarco Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2005, Nacional, p. A11

Partido passaria a ter quatro pastas em vez de duas; em troca, governo terá apenas a promessa de maioria de votos da legenda

O PMDB está disposto a entregar ao presidente Lula os cargos dos ministros Romero Jucá (Previdência Social) e Eunício Oliveira (Comunicações) em troca de dobrar sua cota de dois para quatro ministérios. Foi esta a decisão fechada na madrugada de segunda pela cúpula governista do partido, em reunião na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Os aliados do Palácio do Planalto aceitarão o "pacto de governabilidade" proposto por Lula, dando ao governo apenas a promessa da maioria dos votos peemedebistas na Câmara e no Senado. "O Lula vai pagar mais pelo mesmo", resumiu ontem o deputado Geddel Vieira Lima (BA), durante a reunião da bancada da Câmara convocada para decidir sobre o apoio ao governo. O apelo presidencial para ter o PMDB "por inteiro" em sua base no Congresso, passando a fazer negociações institucionais com o partido, não surtiu efeito. Lula terá que manter aberto o "balcão" para seguir atendendo o PMDB em duas frentes: no atacado, os mesmos caciques que lhe deram sustentação política e, no varejo, fazendo acertos individuais para aprovar projetos específicos.

Embora líderes governistas ponderassem ontem que, sem ter o PMDB fechado com o governo, não há por que aumentar a cota de poder do partido, os cardeais peemedebistas faziam raciocínio diferente. Diziam que, quanto maior a presença do PMDB no governo, maior a demonstração de governabilidade a setores vitais da economia e aos formadores de opinião. "Essa é a hora de dar a governabilidade para tranqüilizar a opinião pública", afirmava o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), cobrando do partido uma atitude "profissional" diante da crise.

A reunião dos deputados terminou em impasse, mas os governistas prometem entregar ao presidente Lula uma moção de apoio com 50 assinaturas dos 85 deputados do PMDB. O texto foi redigido nos termos da nota aprovada na véspera por 20 dos 23 senadores do partido.

Os próprios dirigentes da ala afinada com o Planalto fecharam o número máximo de 50 signatários da Câmara. "É tudo de que o governo precisa para sustentar a estabilidade política com a noção de que não é fácil para o partido conseguir isso", explicou um peemedebista experiente.

O primeiro desenho no laboratório do governo para acomodar o PMDB apontava ontem para alterações significativas na Esplanada dos Ministérios. Voltou-se a cogitar a transformação do ministério das Comunicações em secretaria, com a demissão de Eunício Oliveira (PMDB-CE), que reassumiria seu mandato de deputado. Também está sendo discutida a hipótese da criação de um super ministério da Infra-Estrutura, unindo Integração Nacional e Cidades.

Nesse cenário, o PMDB manteria a Previdência e ficaria, ainda, com a Saúde. Na Previdência, a idéia é trocar Jucá por um outro senador peemedebista com mais quatro anos de mandato a partir do ano que vem. A disposição de entregar ao Planalto a cabeça do senador Jucá foi sinalizada exatamente como um movimento de boa vontade para facilitar a remoção de alguns petistas que Lula já pensou em dispensar, mas nunca conseguiu concretizar a demissão por pressão do PT.

Estão nesta categoria Olívio Dutra (Cidades) e Humberto Costa (Saúde). Se essas duas pastas couberem mesmo ao PMDB, os novos ministros deverão ser indicados pela maioria governista da bancada da Câmara. Para atender ao senador José Sarney (PMDB-AP), será entregue a ele a indicação do sucessor da ministra Dilma Roussef (Casa Civil) no ministério das Minas e Energia. Nesse caso, o nomeado para o cargo será o do presidente da Eletrobrás, Silas Rondeau.

Na avaliação geral, o resultado da reunião da bancada da Câmara foi ruim para o PMDB e para o governo, mas não surpreendeu ninguém.

Ao final do encontro, até o presidente nacional do partido, deputado Michel Temer (SP), considerou dispensável a convocação de uma nova convenção nacional para decidir sobre a proposta presidencial, que ele mesmo vinha articulando para o dia 10 de julho com o apoio de dez dos 27 diretórios estaduais do PMDB.