Título: Supremo paquistanês reverte sentença e prende estupradores
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2005, Internacional, p. A25

Eles haviam executado 'sentença de estupro' contra Mikhtar Mai

A Suprema Corte do Paquistão ordenou ontem a prisão de 13 homens acusados de estuprar Mikhtar Mai, de 36 anos, e anteriormente absolvidos. Entre eles estão os membros de um conselho tribal que ordenou o estupro. A sentença ainda será decidida. A decisão foi tomada um dia após um emotivo apelo de Mukhtar Mai, cujo caso atraiu a atenção mundial para o tratamento dado às mulheres em algumas partes da nação conservadora. Mai foi estuprada por vários homens em 2002 por ordem do conselho tribal, supostamente por um "crime" do irmão dela, de 13 anos. Ele havia sido acusado de manter um relacionamento proibido com uma mulher de uma família de uma classe superior. Mai e sua família desmentiram o romance e ela disse que, na verdade, seu irmão é que foi sexualmente atacado por membros da família da mulher.

Em 2002, um tribunal sentenciou seis homens que estupraram Mai à pena de morte e absolveu outros oito, a maioria membros do conselho tribal. Em março, um tribunal da Província de Punjab absolveu cinco dos homens seis condenados e reduziu a pena de morte contra outro acusado para prisão perpétua.

Diante da Suprema Corte, dezenas de mulheres felicitaram Mai pela vitória. "Estou feliz e espero que os que me humilharam sejam punidos", disse ela. "Eu esperava justiça da Suprema Corte e foi feita justiça."

Centenas de mulheres são estupradas e até mortas a cada ano nos chamados "ataques por honra", muitas vezes pelos próprios parentes. Geralmente as vítimas de ataques sexuais sofrem em silêncio, com medo de serem rejeitadas pelas famílias.

Mai tornou-se uma celebridade internacional por causa de sua decisão de enfrentar seus agressores. Vários importantes jornais americanos, entre eles o New York Times, escreveram editorais sobre o caso. Ela recebeu dezenas de milhares de dólares em doações de simpatizantes de todo o mundo, que usou para construir uma escola em seu vilarejo.

Recentemente, após receber o convite de uma organização de direitos humanos para visitar os Estados Unidos e falar sobre seu caso, Mai descobriu que seu nome estava na lista de pessoas que não podem sair do Paquistão.

O presidente paquistanês, Pervez Musharraf, um importante aliado dos EUA, admitiu em uma entrevista que ordenou a proibição de viagem para impedir que Mai difamasse o Paquistão. Após duras críticas de Washington, a proibição foi levantada, mas não está claro se Mai ainda pretende viajar para os EUA.