Título: Bush tenta reverter oposição à guerra
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2005, Internacional, p. A24

Presidente diz que o sacrifício é vital para a segurança dos EUA, nega-se a fixar cronograma para a retirada e cita Bin Laden

O presidente americano, George W. Bush, desencadeou ontem à noite uma ofensiva para retomar a iniciativa e convencer o país de que não há razão para mudar de estratégia no Iraque em face a uma resistência que já matou 1.741 soldados americanos. Num discurso a uma platéia de cerca de 700 soldados da maior divisão aerotransportada do Exército americano, em Fort Bragg, Carolina do Norte, o líder americano enfatizou a necessidade de paciência e perseverança. No pronunciamento televisionado de meia hora - feito no primeiro aniversário da devolução formal da soberania do Iraque a um governo provisório local -, Bush se recusou a fixar um cronograma para a retirada das tropas americanas, mas também deixou claro que não pretende enviar mais soldados.

"Admito que os americanos querem que nossas tropas voltem para casa o mais rápido possível. Eu também. Alguns sustentam que deveríamos marcar uma data para retirar nossas forças. Isso seria um sério erro", assinalou Bush. "Fixar um cronograma artificial (para a retirada) enviaria uma mensagem errada aos iraquianos, que precisam saber que os EUA não os abandonarão antes que o trabalho termine. Seria também uma mensagem errada para nossos soldados, que precisam saber que falamos sério quanto a terminar esta missão na qual arriscam suas vidas", acrescentou.

"Alguns americanos perguntam: se completar a missão é tão importante, por que não mandar mais tropas?", prosseguiu. "Se nossos comandantes nos disserem que precisamos de mais tropas, eu as enviarei. Mas nossos comandantes me dizem que têm a quantidade necessária para fazer seu trabalho." Ele argumentou que ampliar o contingente de 138 mil soldados americanos no Iraque "minaria a estratégia de encorajar os iraquianos a assumir a liderança da luta".

O discurso é parte da estratégia para confrontar a crescente oposição dos americanos à guerra e a maior taxa de desaprovação de seu governo desde quando assumiu pela primeira vez em janeiro de 2001. Do sucesso da operação dependem não apenas os próximos passos nos EUA no Iraque, mas a própria eficácia de Bush como líder.

Bush advertiu os americanos de que ainda haverá "momentos difíceis no Iraque que colocarão à prova a determinação" dos EUA. "O trabalho no Iraque é difícil e perigoso. Como a maior parte dos americanos, vejo as imagens de violência e de sangue. Cada imagem é horripilante e o sofrimento é real. Diante de toda a violência, sei que os americanos perguntam: o sacrifício vale a pena?", discursou. "Vale a pena e é vital para a segurança de nosso país."

Ele também fez uma rara menção ao líder da rede terrorista Al-Qaeda: "Alguns se perguntam se o Iraque é um front central da guerra ao terror. Mas entre os terroristas não há debate. Ouçam o que diz Osama bin Laden: 'Esta terceira guerra mundial está enfurecendo o Iraque, o mundo inteiro vive esta guerra.' Os terroristas sabem que os resultados os deixarão mais valentes ou derrotados." Bush fez outra menção: "Nossos inimigos só vencerão ... se abandonarmos os iraquianos nas mãos de homens como Zarqawi (chefe da Al-Qaeda no Iraque) e se abandonarmos o futuro do Oriente Médio nas mãos de homens como Bin Laden."