Título: Instituições financeiras unem-se para estimular negócios verdes
Autor: Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2005, Economia & Negócio, p. B16

Objetivo é incorporar dimensão social e ambiental ao dia-a-dia dos bancos e prever riscos futuros

Já não é de hoje que o setor financeiro internacional vem encabeçando um movimento para difundir o conceito da sustentabilidade - econômica, social e ambiental - entre as instituições, sejam bancos, bolsas ou gestores de investimentos. Nesses moldes, vieram o Índice Dow Jones de Sustentabilidade, em 1999, com a classificação das empresas mais sólidas a longo prazo nesse campo, e os Princípios do Equador, em 2002, que prevêem que os bancos levem em consideração critérios mínimos de responsabilidade social corporativa para a concessão de financiamentos. Agora, um grupo de instituições financeiras do Brasil vai engrossar esse time de iniciativas. Será lançada hoje, na Febraban, em São Paulo, a Câmara Técnica de Finanças Sustentáveis, uma aliança que terá o propósito de trazer as dimensões sociais e ambientais para o dia-a-dia dos bancos.

As ações da câmara serão coordenadas pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), ONG que congrega empresários engajados com a questão e reúne bancos do porte do Itaú, Banco do Brasil, ABN Amro Real, Bradesco e a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).

Na prática, as instituições financeiras que participam da iniciativa já estão envolvidas com o tema da responsabilidade corporativa, seja por meio de institutos e fundações, que coordenam as ações sociais, ou mesmo na análise de riscos sociais e ambientais das empresas tomadoras de crédito. Agora, querem discutir juntas como ampliar o leque de ações e também como disseminar as práticas sustentáveis para o restante do setor.

"Vamos construir uma agenda comum para as empresas do segmento financeiro, que já sabem bem como lidar com riscos tangíveis em suas operações", explica o presidente da ONG Cebds, Fernando Almeida. " O desafio será incorporar também os riscos intangíveis", completa.

Esses "riscos intangíveis", que já balizam os investimentos das instituições financeiras, incluem o modo como as empresas abordam a questão ambiental, por exemplo, e o impacto que isso terá a longo prazo. Temas como as mudanças climáticas, se não forem pensados estrategicamente pelos setores de petróleo e gás - grandes poluidores -, tornam essas empresas mais arriscadas para acionistas e investidores. "Mas é necessário enxergar também as oportunidades de negócios que existem, ligados aos riscos", alerta Almeida. Nesse contexto, o próprio mercado de créditos de carbono, o investimento em tecnologias e energias mais limpas podem pautar os negócios no futuro, afirma.

A Câmara de Finanças Sustentáveis está aberta para a participação de outras instituições financeiras, em especial bancos públicos e de fomento ao desenvolvimento. "Não é um clube fechado. Quanto mais empresas participantes, mais rico será o debate", afirma Luiz França, diretor de produtos PJ (Pessoa Jurídica) do Itaú e que também presidirá a Câmara. O Itaú é o único banco latino-americano a integrar o Índice Dow Jones de Sustentabilidade pelo quinto ano consecutivo e foi considerado uma das marcas mais valiosas do País - cotada a US$ 1,2 bilhão, em 2003.