Título: Iniciativa brasileira de comércio justo vai à ONU
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2005, Economia & Negócio, p. B16

Pão de Açúcar apresentou projeto na reunião do Pacto Global

A experiência de levar artigos produzidos por comunidades carentes para as gôndolas dos supermercados rendeu ao grupo varejista Pão de Açúcar repercussão internacional. A empresa foi convidada a mostrar seu projeto Caras do Brasil, de incentivo ao comércio justo, na reunião do Pacto Global das Nações Unidas, realizada há duas semanas em Paris. O chamado comércio justo ou ético - fair ou ethical trade - é um movimento internacional que visa a estimular o desenvolvimento econômico e social de comunidades marginalizadas por meio da venda de produtos típicos por elas produzidos. O projeto do Pão de Açúcar, iniciado há dois anos em quatro lojas paulistanas da rede, tem feito a ponte entre esses produtos - de orgânicos a brinquedos educativos - e uma clientela de maior poder aquisitivo.

Mesmo sem investir em publicidade diretamente focada no programa, o Pão de Açúcar avalia como positivo o andamento do projeto, que já comercializou 105 mil itens. Entre os mais vendidos, estão panos de prato confeccionados por senhoras do interior de Mato Grosso, mel produzido pelos índios do Xingu, cachaças mineiras e peças artesanais em geral. "É um produto a ser descoberto, pois não tem publicidade específica", explica Hugo Bethlem, diretor-executivo do Pão de Açúcar. "Sai muito para as classes A e B, para estrangeiros e para quem procura objetos para presentear", diz. Em dois anos, de quatro lojas iniciais em São Paulo, o projeto se estendeu para 12 lojas na capital paulista e mais 10 lojas da bandeira Sendas no Rio de Janeiro. O varejista estuda comercializar os produtos "sustentáveis" também nas lojas Extra e Compre Bem, também em capitais como Brasília e Fortaleza.

Bethlem explica que, para o projeto dar certo, são necessários ajustes por parte do varejista, como o pagamento ao fornecedor em dez dias, independente da venda dos produtos. "Uma das belezas do Caras do Brasil é que nós nos adaptamos à realidade de produção dos fornecedores", conta. Atualmente, as gôndolas do programa são abastecidas com produtos de 56 fornecedores, de 19 estados brasileiros. O preço alto dos produtos é justificado pela produção artesanal (sem escala) e custos como frete e impostos. "Não é um projeto beneficente. Os produtos são diferenciados e devem ter qualidade e beleza, por isso são considerados caros para o padrão brasileiro", diz.

Bethlem apresentou o projeto Caras do Brasil na última reunião do Pacto Global da ONU e afirma que há um crescente interesse das grandes empresas globais em apoiar projetos de comércio justo. Ele presidiu uma mesa-redonda sobre o tema, da qual participaram representantes de empresas como Deutsche Telekom, Carrefour, EDS, Ikea, entre outras. A reunião deste ano do Pacto Global atraiu 140 empresários de 133 países, e os temas deverão pautar os discursos na Assembléia Geral da ONU, em setembro.