Título: Dívida dos agricultores é de R$ 35 bilhões
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2005, Economia & Negócio, p. B9

O valor refere-se só aos débitos junto ao governo federal, segundo a CNA, que propõe parcelamento ou renegociação

Os agricultores devem perto de R$ 35 bilhões para o governo federal, segundo estimativa divulgada ontem pelo chefe do Departamento Econômico da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Getúlio Pernambuco. Ele defendeu a rolagem parcial dos financiamentos que não foram pagos. "É necessário o parcelamento ou a renegociação das dívidas dos dois últimos anos-safra", afirmou. "Não estamos pedindo a renegociação total dos débitos." Pernambuco está reivindicando também a liberação de R$ 1 bilhão em recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), anunciada para o início deste mês, para que os produtores quitem as dívidas que mantêm junto aos agentes privados. A CNA quer ainda um aporte adicional de R$ 5 bilhões para os agricultores que têm hoje problema para comercializar sua safra.

A entidade divulgou ontem uma pesquisa que mostra o comprometimento da renda do agricultor com o pagamento de dívidas com governo e fornecedores. Foram ouvidos 2.298 produtores de todo o País durante o mês de maio, e a maioria afirmou ter pendências em empréstimos tomados para custear a lavoura. "Isso é preocupante, pois boa parte dos produtores tem também dívidas em outras linhas", disse Pernambuco. Do total de produtores, uma parcela de 10% indicou que tem comprometimento superior a 60% da renda bruta.

RENEGOCIAÇÃO

Além do alto comprometimento da renda com as linhas oficiais de crédito rural, a pesquisa mostra que o setor também está endividado diretamente com os fornecedores de insumos. Cerca de 36% dos consultados informaram que têm dívidas desse tipo. A pesquisa, do Projeto Conhecer da CNA, indica que somente 11% dos entrevistados que pediram renegociação foram atendidos em relação ao crédito de custeio. Outros 12% pediram a renegociação dos débitos de linhas de investimento e conseguiram um prazo maior para quitar as dívidas.

De acordo com a CNA, 28% dos produtores informaram ter dívidas por intermédio do lançamento de Cédulas de Produto Rural (CPR), mas apenas 30% desse grupo conseguiu renegociar o valor devido.

"A situação de crise de renda já estava estabelecida e era de conhecimento do governo, que lançou - por meio de resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN) - uma série de medidas na tentativa de facilitar a renegociação das dívidas rurais. Mas a pesquisa comprovou que essas medias não foram suficientes para atender aos problemas do campo", afirmou Pernambuco.

Para 34% dos produtores consultados, as medidas do CMN não atenderam à demanda do setor rural. Outra parcela de 38% dos entrevistados afirmou que as medidas resolveram apenas parcialmente os problemas de crédito.