Título: Aumenta pessimismo do consumidor
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2005, Economia & Negócio, p. B3

Pesquisa da CNI mostra que o índice de expectativa caiu de 101,58 pontos para 100,24 pontos de março para junho no País

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) captou em junho um aumento do pessimismo dos consumidores com o futuro da economia brasileira. "Houve uma clara piora nas perspectivas com relação à economia para o resto do ano e das expectativas quanto à evolução da renda", informou a CNI em nota divulgada ontem. O Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec) caiu 1,3 ponto e passou dos 101,58 pontos de março para 100,24 pontos. "A queda foi provocada sobretudo pelos efeitos da desaceleração da economia", afirmou a entidade representativa dos empresários. Essa pesquisa da CNI utiliza outubro de 1997, quando foi criada, como referência. Aquele mês foi fixado como 100. A partir de então, os índices vão variando conforme a oscilação do humor do consumidor brasileiro. Dessa forma, em março a satisfação (101,58) era maior do que a de junho (100,24).

O índice reúne e transforma em número respostas dos entrevistados a perguntas como: o que esperam para o resto do ano, a satisfação com a vida, a intenção de consumo, o medo do desemprego. Em março, 19% achavam que as perspectivas para o ano eram muito boas. Em junho, eram 15%. No mesmo período, os entrevistados que achavam as perspectivas muito ruins passaram de 4% para 5%.

Na mesma pesquisa, as expectativas dos consumidores com relação a um possível aumento de renda neste ano recuaram 5,2 pontos, passando de 106,33 pontos de março para 100,77 pontos em junho. Já o indicador referente à melhora de renda pessoal caiu 1,5 ponto, de 104,12 pontos de março para 102,58 pontos.

"Apesar da variação negativa, ambos indicadores encontram-se pouco acima de seus valores médios históricos e praticamente idênticos aos valores registrados em junho de 2004", ressaltou a CNI. Na pesquisa anterior, estes índices de confiança no aumento da renda haviam ficado estáveis.

A pesquisa também detectou um crescimento no medo do desemprego. "Possivelmente, o movimento desse indicador está relacionado a um medo maior de demissões decorrentes de uma reversão dos bons resultados econômicos obtidos em 2004", disse a CNI. A parcela dos entrevistados que têm muito medo do desemprego passou de 35% em março para 38% em junho. O porcentual dos que não têm receio de perder o emprego nos próximos meses recuou de 29% para 27% no mesmo período.

A pesquisa da CNI revelou, porém, uma melhora das perspectivas dos consumidores em relação ao comportamento dos preços. O levantamento identificou um recuo do porcentual de entrevistados que esperavam aceleração dos preços de 57% para 54%. Apesar de ainda considerar o porcentual elevado, a CNI ressaltou que foi a primeira redução após três altas consecutivas.

Outro indicador a apresentar melhora na pesquisa foi o índice de intenção de compras dos consumidores. "O índice atingiu o maior valor desde o terceiro trimestre de 2001, poucas vezes superado desde o início da série histórica." O índice de confiança, neste caso, aumentou 4,5 pontos e passou dos 88,81 pontos de março para 92,73 pontos. Esse aumento se deve ao fato de 22% dos entrevistados afirmarem que pretendem aumentar suas compras nos próximos três meses. Em março, este porcentual era de 19%.

Na avaliação da CNI, embora as pessoas estejam propensas a consumir no curto prazo, elas ao mesmo tempo não esperam aumento da renda no prazo mais longo. A entidade acredita que, com a combinação desses dois fatores, o crescimento está ameaçado, pois o consumo tenderia a cair mais à frente, enfraquecendo um dos motores da atividade econômica.