Título: Por onde Suzane passa ou pode passar, um rastro de tensão
Autor: Laura Diniz
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2005, Metrópole, p. C10

Advogada dos Cravinhos pedirá extensão do habeas-corpus da jovem para eles

"Estou revoltado e indignado com a decisão", disse ontem o tio de Suzane von Richthofen, Miguel Abdalla, por meio de seu advogado, Alberto Toron. Ele se referia ao habeas-corpus que pôs a sobrinha em liberdade anteontem, após dois anos e sete meses de prisão. O paradeiro de Suzane é desconhecido desde anteontem, quando saiu do Centro de Ressocialização Feminino de Rio Claro, onde estava havia 10 meses. O advogado de Suzane, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, afirmou que não sabia onde ela estava e que "a família apenas vai cuidar disso daqui para frente". Na casa da avó materna, Lourdes Abdalla, onde moram também o tio e o irmão Andreas, ninguém atendeu o interfone ontem. Por telefone, desligavam quando a reportagem se identificava. A jovem pode estar na casa de parentes no interior do Estado, mas não há nada confirmado.

Toron foi contratado para ajudar o promotor Roberto Tardelli na acusação dos irmãos Daniel e Christian Cravinhos, que planejaram e executaram, com Suzane, a morte dos pais dela, Manfred e Marísia von Richthofen, em outubro de 2002. Os três são acusados de duplo homicídio triplamente qualificado e foram presos com base no mesmo decreto de prisão preventiva, em novembro de 2002.

Como o Superior Tribunal de Justiça libertou Suzane por entender que o decreto não estava devidamente fundamentado, a advogada dos Cravinhos, Gislaine Jabur, pedirá aos ministros que estendam o benefício a seus clientes. "Devo peticionar no habeas-corpus até segunda-feira", disse a advogada. Segundo ela, os irmãos "estão bem e seguem trabalhando na prisão", em Iperó, no interior.

REAÇÃO

O clima é tenso por onde Suzane passa ou pode passar. Anteontem, mais de cem pessoas esperavam para vê-la em Rio Claro e muitos gritaram "assassina" quando o carro que a levava ganhou as ruas. Ser loira, por exemplo, pode ser perigoso na frente da casa da avó da jovem. Ontem, a empresária Neusa Aparecida da Silva confundiu a repórter do Estado com Suzane e quase puxou seus cabelos. "Vi só o cabelo e pensei que era ela. Deus ainda vai me permitir encontrar com ela para dar dois puxões naquele cabelo loirinho, lisinho", disse Neusa. "Quero pegar bem forte e ficar com um pouco de cabelo na mão. E depois vou lavar a mão com cândida."

A empresária mora perto da casa onde Suzane vivia com seus pais, no Brooklin, e deixa a sobrinha diariamente numa escola próxima à casa de Lourdes Abdalla. A indignação dela com o crime é tamanha, que teve a paciência de recortar os títulos de várias notícias de jornais e revistas sobre o caso e fazer um quadro para dar a Suzane. "Até plastifiquei, para ela não rasgar", disse. Ela chegou a levar o "presente" no 89.º Distrito Policial (Morumbi), mas a jovem não estava mais lá. "Agora, penso em ir a uma gráfica, fazer várias cópias e colar nos postes dessa rua, para ela ver todo dia", afirmou. Neusa acredita que a jovem vai passar uns dias fora da capital, mas deve vir morar na casa da avó. "O tio dirige o Gol caramelo que era dela."