Título: Governo descarta intervenção no câmbio
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2005, Economia & Negócios, p. B11

Outras medidas serão tomadas para atender às queixas de exportadores sobre os efeitos da valorização do real nas vendas externas

O governo começa a avaliar a valorização do real e seus efeitos para os exportadores. Na próxima semana, poderão ser tomadas medidas que compensem os problemas enfrentados por alguns setores produtivos. A informação é do secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Márcio Fortes de Almeida. As medidas, afirma, não incluirão qualquer modificação ou intervenção no câmbio. "O dólar é um fator importante, mas precisa flutuar o quanto for necessário. Sou um defensor da flutuação. Temos de entender que o dólar não é tudo, mas sim a competitividade. Se temos problema de um lado, compensamos de outro, com reduções dos custos de exportação", explicou Fortes, que promete ser criativo nas soluções futuras.

Segundo Fortes, o governo avalia quais setores serão beneficiados e quem perderá com a valorização dos últimos meses - alguns setores que dependem mais de mão-de-obra estão com problemas, como calçados, couro e vestuários. Essas dificuldades, diz, já têm conseqüências nas cidades de Franca (SP) e de Nova Hamburgo, locais de produção calçadista, setor que rendeu US$ 3,3 bilhões em exportações no ano passado.

No setor têxtil, Fortes ainda indica que a regulamentação da lei de salvaguardas contra os produtos chineses deverá ser enviada para a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas próximas duas semanas. A lei possibilitaria que, em caso de uma invasão de produtos, o Brasil possa impor barreiras.

Mas o MDIC aponta outros setores que compensam essas perdas. É o caso das vendas de minérios, cujos preços internacionais subiram. "A Companhia Vale do Rio Doce está nadando de braçadas", lembra Fortes. Outro fator considerado pelo governo é o fato de a valorização do real ajudar a reduzir os preços dos componentes estrangeiros importados para a produção local.

"Depois de feita toda essa avaliação, veremos o que pode ser feito", disse o secretário-executivo. Ele não esconde, porém, que o centro da atuação continuará sendo a desburocratização e a desoneração das exportações. "No passado, as empresas pediam desvalorizações cambiais para venderem mais. Ao fazer isso, levantava-se o tapete e escondia-se os problemas. A competitividade não melhorava com essas medidas."

Um exemplo de desoneração das exportações citado por ele é a "MP do Bem". "Vamos incluir em breve uma nova lista de produtos que poderão ser importados com benefícios", afirmou. Fortes destaca que a lista incluirá máquinas e equipamentos. Outra possibilidade de desoneração será a publicação de uma nova lista de produtos que poderão ter o IPI reduzido, mais uma vez no setor de máquinas. "Estamos negociando tudo isso neste momento com a Receita Federal."

A desoneração, destaca, ainda inclui a redução de spreads bancários aplicados pelo BNDES para ajudar a exportação. Fortes explica que a instituição aplicava taxa de 2% e, a cada caso avaliado, define uma nova taxa inferior.