Título: BC reduz previsão de crescimento
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

Para governo, PIB deve ter alta de 3,4% neste ano, em vez de 4%, e inflação deve atingir, 5,8%, acima do alvo de 5,1%

O governo reduziu de 4% para 3,4% a estimativa de crescimento da economia este ano. A revisão consta do Relatório de Inflação de junho, divulgado ontem pelo Banco Central (BC), e reforça a sua constatação de que a atividade produtiva arrefeceu, depois de alcançar níveis elevados em 2004. Isso teria sido provocado, entre outros fatores, pela alta das taxas de juros (Selic). Ainda assim, as projeções mostram que a inflação medida pelo IPCA neste ano ficará acima do objetivo do governo, que é 5,1%. Ficará em 5,8%, segundo o relatório - acima dos 5,5% projetados em março. Ao divulgar o relatório, o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, esquivou-se de indicar a tendência dos juros. Mas salientou que o banco "não abandonou nem abandonará a meta de 5,1%" e a convergência da inflação para esse porcentual é "o maior problema do momento".

Ele explicou que as projeções do relatório foram feitas com base nos resultados do primeiro trimestre. Portanto, desconsideram melhoras verificadas a partir de abril. Na perspectiva do BC, a inflação tenderá a cair no terceiro e no quarto trimestres, quando será notado o impacto das altas do juro.

"Se a inflação está acima da meta, você pode acusar o BC de leniente. Quando o BC exagera (ao aumentar muito os juros), a inflação fica abaixo da meta. Avaliando a evolução da inflação nos últimos 12 meses, não se pode classificar a postura do BC de muito conservadora."

Bevilaqua argumentou que os aumentos dos juros não tiveram só o objetivo de reduzir a demanda para derrubar a inflação, mas também de preservar a economia. A aceleração da inflação, disse, tende a corroer a demanda e, conseqüentemente, o investimento. Portanto, prejudica a atividade econômica. "A taxa de juros serve para preservar o crescimento sustentável de médio prazo."

O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), segundo Bevilaqua, poderá melhorar no segundo semestre. Ele acredita que os ótimos resultados no mercado de trabalho, com alta no número de pessoas empregadas, podem puxar a reação da atividade econômica pelo consumo. As perspectivas mais favoráveis no mercado externo também devem impulsionar as exportações.

O relatório mostra que a queda na atual projeção para o PIB de 2005, para 3,4%, deveu-se à retração do consumo das famílias e dos investimentos em estruturas produtivas, à quebra da safra agrícola e à revisão das Contas Nacionais Trimestrais de 2004.