Título: Meirelles na Câmara: só economia
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2005, Economia & Negócios, p. B6

Em audiência pública, presidente do BC falou mais sobre economia do que sobre denúncias de sonegação

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, foi poupado de ter que se defender pessoalmente das suspeitas de sonegação, evasão de divisas e crime eleitoral durante audiência pública na Câmara dos Deputados, ontem. Nas quase quatro horas de debate, os deputados e senadores concentraram as perguntas em temas econômicos e nas operações do BC. A exceção ficou por conta do deputado Ronaldo Dimas (PSDB-TO) que questionou se Meirelles permaneceria no cargo após a reforma ministerial que está sendo preparada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou sairá para se candidatar nas eleições de 2006. O presidente do BC não fez nenhum comentário sobre a sua permanência no cargo, mas respondeu prontamente que não será candidato a governo de Goiás. O presidente do BC chegou tenso para a audiência, acompanhado por um batalhão de assessores. Isso, apesar de o governo ter estrategicamente aproveitado as discussões da Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) para adiar o debate inicialmente marcado para o dia anterior.

Ontem, com o depoimento do deputado Roberto Jefferson na CPI dos Correios, e outros também no Conselho de Ética, os parlamentares tiveram que se dividir entre as várias audiências. Com isso, o quórum foi pequeno. Logo após a exposição inicial de Meirelles, havia 16 assessores do BC e 15 parlamentares - que logo passaram a 9 e encerraram a sessão em 3. O clima amistoso deixou o presidente do BC mais relaxado.

Questionado sobre a contradição entre o estímulo do governo ao aumento o volume de crédito no País e o aperto na taxa de juros, Meirelles admitiu que, no curto prazo, há um descompasso entre as duas políticas. Mas afirmou que os ganhos no médio e longo prazos que o Brasil terá com o aumento do volume de crédito são maiores e compensam. "O BC olha para um conjunto de fatores contracionistas e expansionistas para tomar decisões. A autoridade monetária não pode ser contra uma política que, no longo prazo, vai melhorar a economia, por causa de um objetivo de curto prazo, que é o controle da inflação", defendeu Meirelles.

CRESCIMENTO

Ele rebateu as críticas à política de juros e ao baixo crescimento da economia, dizendo que houve uma acomodação no nível de atividade no início do ano, mas "o Brasil continua crescendo". Segundo Meirelles, o que provocou a acomodação foi a quebra de safra agrícola e o aumento da inflação no primeiro trimestre. "Com a inflação sob controle e maior previsibilidade, vamos ter uma retomada mais pronunciada do crescimento econômico a partir de agora", afirmou, ressaltando que a taxa de crescimento em 2005 será maior do que a média dos últimos anos.

A trajetória de inflação no País, acrescentou, tem melhorado recentemente. Isso poderá abrir espaço para queda dos juros no médio prazo. No entanto, destacou, não é possível fazer isso artificialmente. "No passado, quando o Brasil forçou os juros de curto prazo para baixo, as taxas de médio e longo prazos subiram e isso inibiu o crescimento." Segundo ele, o governo concentra os esforços para crescer e o objetivo da política econômica é fazer isso da forma mais saudável para o País. Para Meirelles, a política monetária tem sido eficaz para controlar a inflação e o sistema de metas, eficiente na coordenação de expectativas.