Título: 'Com preço atual, não plantar é a solução'
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2005, Economia & Negócios, p. B7

Sem acordo com governo, agricultores definem estratégia para próximos meses

O impasse nas negociações entre governo e produtores rurais levou lideranças do movimento e os participantes do tratoraço a definirem três estratégias para os próximos meses. Eles afirmaram que plantarão 50% a menos do que em 2004. "Com o preço atual dos grãos, o produtor vai ter que pagar; não plantar é a solução", disse Homero Pereira, da Federação do Mato Grosso, organizador do tratoraço. "O governo cruza os braços pra gente, nós também." Nas cidades onde estão sediadas as fazendas, os presidentes das federações recomendaram usar os tratores para bloquear as agências do Banco do Brasil. Na frente legislativa, a bancada ruralista se comprometeu a trancar a pauta de votações enquanto o governo não ceder nas reivindicações. Ontem, o deputado federal Ronaldo Caiado (GO) já ameaçava impedir a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

No fim da tarde de ontem, os manifestantes começaram se dispersar. O fim do tratoraço estava previsto para as 21h. Seria o fim de um protesto que praticamente sitiou o centro nervoso da capital federal por três dias, para irritação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Eram 11h quando quatro helicópteros das polícias Militar e Civil começaram a sobrevoar a Esplanada. Nos arredores da região onde estavam cerca de 9 mil produtores rurais, havia mil policiais pelas rua.

O número de tratores nos jardins do Congresso subiu para 200 durante a madrugada. Os últimos tratores foram retirados às 4h da manhã e as negociações entre manifestantes e policiais entraram madrugada adentro. Dpois de um entendimento, cerca de 800 tratores deram uma volta pela Esplanada ontem por volta do meio-dia.

No percurso, o organizador do movimento, Homero Pereira, em cima do carro de som, mudava o discurso conforme o ministério: "Pobre Ministério da Agricultura, o mais importante do Brasil, que é menosprezado pelo governo e não recebe nem 1% do orçamento."

"O ministério da Fazenda, que tem um ministro com coração de pedra, não produz nada e só arrecada com dinheiro dos nossos impostos", afirmou. Em cima do prédio da Fazenda, Homero avistou um urubu: "O Palocci vai comemorar os bons resultados da economia com os banqueiros, verdadeiros carniceiros que não perdoam ninguém, em vez de comemorar com quem produz e gera as divisas do comércio exterior."