Título: Pedro Henry nega ter oferecido mensalão
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2005, Nacional, p. A5

No Conselho de Ética, ele faz duro ataque a deputado do PTB

O deputado Pedro Henry (PP-MT) negou ontem, em depoimento no Conselho de Ética da Câmara, ter oferecido o mensalão para atrair deputados ao PP e bateu forte no autor da denúncia, colocando em dúvida a sanidade mental do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). "Jefferson está passando por um processo de deterioração psicológica muito grave. Está perdendo as faculdades mentais, o equilíbrio. Está se endeusando", afirmou Henry, que é médico. "Está ultrapassando os limites e, do ponto de vista médico, ele me preocupa bastante." No depoimento, de quatro horas e meia, Henry disseque só ouvir falar na suposta mesada no início do mês, quando o petebista denunciou o esquema. "Desconheço, nunca ouvi e nunca participei", disse "Às vezes a gente acaba angariando adversários, inimigos políticos, que não sabe por quê. Talvez ele (Jefferson) tenha me envolvido porque eu ocupava posição de visibilidade."

O ex-líder do PP negou com veemência ter participado de uma reunião com os deputados Bispo Rodrigues (PL-RJ) e Valdemar Costa Neto (PL-SP) para pressionar o líder do PTB, José Múcio (PE), a aderir ao mensalão. "Essa reunião nunca existiu. Essa reunião só existiu na cabeça dele (Jefferson)."

No relato, Henry garantiu que não conhece o publicitário Marcos Valério de Souza, acusado de ser o operador do mensalão. Acrescentou ter conhecido o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, durante visita do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e do tesoureiro do PT a seu Estado. "Delúbio foi acompanhar Greenhalgh durante a campanha do deputado à presidência da Câmara", detalhou. Um segundo contato com Delúbio teria ocorrido em reunião na sede do PT em Brasília, com a presença do presidente da legenda, José Genoino. "Mas nunca vi o Delúbio no Planalto."

Dizendo-se traído pelo ex-secretário-geral do PP Benedito Domingos, Henry negou que a casa do atual líder do PP, José Janene (PR), funcionasse como QG do mensalão.

Segundo Domingos denunciou ao Estado, o apartamento de Janene era conhecido como "pensão", tamanha a afluência de deputados. Henry admitiu freqüentar a residência do líder de sua legenda, mas garantiu: "Janene tem a virtude muito grande de ter uma cozinheira espetacular. As reuniões na casa dele eram comuns, mas eram reuniões gastronômicas. Ganhei 20 quilos."

O número de deputados do seu partido, admitiu Henry, aumentou depois da posse do presidente Lula. Em outubro de 2002, o PP elegeu 49 parlamentares. "Chegamos a ter 56 deputados. Hoje, são 55", disse o ex-líder.

Desde o início do governo Lula, 18 deputados deixaram o PP e outros 2. "São alterações partidárias absolutamente normais. Não há nenhuma relação espúria. Não fui cooptar ninguém."

Henry ponderou que seu partido perdeu quatro deputados para o PTB e outros dois parlamentares trocaram o PTB pelo PP. "Em relação ao PTB o saldo do PP é negativo."

Gráficos armazenados num notebook foram exibidos por Henry para sustentar que o PP foi mais independente que o PTB em relação aos interesses do Palácio do Planalto. "Apesar de pertencermos à base aliada, o PP mantém uma relação crítica e respeitosa com o governo. O PTB tem tido mais fidelidade às propostas do governo."

CARGOS

Henry disse que seu partido fez indicações para cargos públicos. O deputado contou que o partido tem apadrinhados no Instituto Brasil Resseguros (IRB), na Secretaria de Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e numa diretoria Petrobrás.

Depois, fez uma retificação e disse que havia se equivocado ao citar a Petrobrás. O PP não fez indicação na da Petrobrás, assegurou Henry. "Fizemos uma indicação para a Transportadora Brasileira de Gás", corrigiu.