Título: Auditoria revela contrato irregular nos Correios
Autor: Guilherme Evelin
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2005, Nacional, p. A6

Estatal pagou consultor com dinheiro de convênio com Universidade de Brasília. Contratado é suspeito de ligação com grupo que perdeu licitação para Skymaster

Relatório confidencial do Departamento de Auditoria dos Correios encontrou irregularidades na contratação do brigadeiro Venâncio Grossi, ex-diretor do Departamento de Aviação Civil (DAC), para fazer em 2003 uma consultoria externa na reestruturação dos contratos da Rede Postal Aérea Noturna. Os documentos da contratação do brigadeiro, segundo descobriram os auditores durante a inspeção dos contratos, concluída em outubro de 2004, sumiram dos arquivos da estatal. Além disso, R$ 261 mil foram pagos ao brigadeiro de forma irregular. Os Correios usaram recursos de um convênio com a Universidade de Brasília (UnB), de finalidade estranha ao objetivo da consultoria, para justificar os pagamentos. A Rede Postal Aérea Noturna está sob o foco da CPI dos Correios por causa de denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) que ligaram a empresa Skymaster Airlines, dona de um dos contratos da rede, ao secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, que nega as acusações de Jefferson. A Skymaster venceu, em dezembro de 2003, uma licitação no valor de R$ 56,4 milhões para fazer o transporte de cargas postais entre Fortaleza, Salvador, Rio, São Paulo, Brasília e Manaus. Posteriormente, esse contrato, sob a alegação da necessidade de recomposição do equilíbrio financeiro, praticamente dobrou de valor. A licitação vencida pela Skymaster no final de 2003 foi feita na seqüência do trabalho de consultoria realizado por Grossi.

O ex-diretor do DAC foi contratado pelos Correios para dar uma assessoria na renegociação dos contratos da Rede Postal Noturna aberta pela estatal durante a gestão do ex-ministro das Comunicações Miro Teixeira. Segundo a auditoria, a contratação do brigadeiro foi feita de forma totalmente irregular. Os serviços de Grossi foram incluídos na execução de convênio de R$ 5,5 milhões celebrado pelos Correios com a UnB, que nada tinha a ver com a rede noturna e visava o treinamento de pessoal. Para justificar o pagamento a Grossi, foram apresentadas faturas no valor de R$ 281 mil relativos a supostos serviços realizados para a automação da rede de agências dos Correios.

Durante a auditoria, a UnB alegou que os pagamentos não foram feitos a Grossi, mas exclusivamente aos contratados para realizar os serviços previstos no convênio. Mas a própria estatal confirmou os repasses ao brigadeiro. A auditoria recomendou a análise do caso à Secretaria Federal de Controle Interno. Além disso, a contratação do brigadeiro ficou sob suspeita por outros motivos. Segundo revelou a revista Época desta semana, durante a reestruturação dos contratos da rede noturna, Grossi foi alvo de espionagem da Skymaster.

A empresa levou ao ex-ministro Miro Teixeira um dossiê contra Grossi que mostraria ligações do brigadeiro com um grupo concorrente, a Promodal. O dossiê contém cópias de recibos que mostram como as despesas de Grossi com hospedagem e restaurantes em Brasília, durante a consultoria aos Correios, eram pagas pela Promodal. Na licitação vencida pela Skymaster, a Promodal foi desclassificada. O Estado tentou ouvir Grossi, mas não conseguiu contato.