Título: Genoino diz que contrato é de Delúbio e pede executiva
Autor: Mariana Caetano e Alexandra Penhalver
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2005, Nacional, p. A5

Constrangido, o presidente do PT, José Genoino, confirmou ontem que o partido obteve em 2003 um empréstimo de R$ 2,4 milhões do Banco de Minas Gerais (BMG), em operação que teve como avalistas o publicitário Marcos Valério de Souza, o secretário de Finanças da legenda, Delúbio Soares, e o próprio Genoino. Atribuiu a iniciativa a Delúbio e convocou para hoje uma reunião de emergência da executiva do partido. Sob intensa pressão de vários setores da legenda, estará em jogo no encontro a permanência do tesoureiro no cargo. A tendência é exigir a saída de Delúbio para tentar preservar Genoino, que alega aos companheiros ter sido traído. Questionado se Delúbio era digno de confiança, Genoino deu seu recado. "Estamos conversando sobre isso", afirmou, referindo-se à reunião da executiva e outra do diretório nacional - instância máxima da legenda -, a ser convocada até o final da semana. Ele nega, mas o próprio Genoino teria discutido sua renúncia à presidência do PT com o presidente Lula, ontem, no Fórum de São Paulo, que reuniu partidos de esquerda latino-americanos. Segundo um interlocutor de Lula, Genoino foi aconselhado a não deixar o comando do PT sem antes fazer uma defesa vigorosa de sua posição e cobrar explicações de Delúbio.

A Democracia Socialista (DS), a Articulação de Esquerda (AE) e outros grupos minoritários do PT defendem a recomposição completa da executiva, o que pode significar também o afastamento do secretário-geral, Silvio Pereira, citado como peça-chave na distribuição de cargos do governo federal. A tese tem apoio também de integrantes do Campo Majoritário, grupo moderado ao qual pertencem Genoino e Lula. Foi discutida em reunião de ministros petistas na semana passada, mas a idéia era mexer na executiva após a reforma ministerial e alçar ao comando do PT parlamentares de expressão, capazes de intensificar a defesa da imagem da sigla.

"O partido precisa criar uma comissão de averiguação interna", defendeu Joaquim Soriano, secretário de Formação Política do PT e integrante da DS. "O PT tem que mudar procedimentos na relação com empresários para financiamento de campanhas", disse Valter Pomar, candidato da AE à presidência. "É impossível que continue dirigido por pessoas arroladas na CPI", disse o candidato da DS, Raul Pont, cobrando a saída também de Genoino.

O deputado Chico Alencar (PT-RJ), na condição de membro do diretório nacional, protestou contra o fato de jamais ter sido informado das relações do PT com Valério. "Essa omissão é muito grave. É inaceitável que alguém que tenha contratos com o governo pague uma dívida do partido."

Genoino ressaltou que no momento em que o contrato de empréstimo foi assinado, a presidência do partido não conhecia o publicitário: "Foi assinado em confiança." Ele reconheceu não ler tudo o que assina. Mais cedo, se viu obrigado a corrigir informação dada à Veja, de que a operação financeira não existia. Na semana passada, chorando, o tesoureiro atribuiu as denúncias à direita. Genoino reconheceu que são públicos "os vínculos do Marcos Valério com o tesoureiro do PT".