Título: Docemente constrangido
Autor: Dora Kramer
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2005, Nacional, p. A6

Jobim não assume, mas autoriza articulação para candidatura à sucessão de Lula A intenção de deixar o Supremo Tribunal Federal assim que encerrar seu período na presidência para voltar à política, o ministro e ex-deputado Nelson Jobim já manifestou de público.

O que ainda não admite abertamente, mas conversa internamente, é a hipótese de vir a se candidatar à Presidência da República pelo PMDB.

Jobim revogou sua filiação quando foi para o tribunal e pode voltar ao partido em março do ano que vem, se até meados do próximo semestre o quadro estiver propício ao lançamento de sua candidatura.

Dentro do PMDB já estão sendo feitas consultas a diretórios regionais sobre essa possibilidade, muito bem recebida principalmente nas áreas resistentes ao nome do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho.

A vantagem de Garotinho é seu patrimônio de perspectivas favoráveis indicado pelos índices - de 13% a 17% - nas pesquisas de opinião. Jobim tem a seu favor o fato de, nesse ambiente de questionamentos éticos, surgir como uma espécie de reserva moral perante o eleitorado.

Por enquanto, para efeito externo Nelson Jobim nem está pensando no assunto. Do ponto de vista interno, ele trata do assunto no PMDB e recebe constantemente informações sobre a receptividade dos diretórios ao seu nome.

Embora a regra geral mande que candidatos estejam filiados aos partidos pelos quais vão concorrer até um ano antes da eleição (outubro próximo), como magistrado Jobim tem prazo legal até março. Se decidir pela candidatura, antecipará em um mês sua saída do STF.

Bem antes disso, porém, seu nome já precisará circular como possibilidade concreta para a disputa de 2006, a fim de o partido testar a reação do eleitorado por meio de pesquisas.

A menos que a hipótese da candidatura ganhe consistência inquestionável, Jobim enfrentará resistências internas de monta. A começar por Garotinho que, embora o considere um adversário à altura, faz de tudo para ficar na dianteira.

A primeira providência é tentar que o partido aprove um calendário eleitoral segundo o qual as prévias internas, em eleições primárias em todos os Estados, comecem já em outubro, quando Jobim ainda não teria condições legais de entrar no processo.

Os adeptos da candidatura do presidente do STF - que também admitem render-se às pretensões de Garotinho caso ele se firme de maneira incontestável nas pesquisas - fazem contrapressão para que as primárias sejam feitas só a partir de abril, dois meses antes da convenção oficial de escolha do candidato, em junho.

Mas o ex-governador não é o único obstáculo. Outros três governadores do PMDB, também postulantes à legenda para disputar a Presidência, precisarão ser convencidos a desistir: Germano Rigotto, do Rio Grande do Sul, Roberto Requião, do Paraná, e Joaquim Roriz, do Distrito Federal.

Nesse quadro, Roriz é tido como a menor das dificuldades, até porque não apresenta sua postulação abertamente. Para todos os efeitos, aliás, faz como Jobim: não assume.

Rigotto e Requião são candidatíssimos, sendo que o governador gaúcho leva o plano a sério, a ponto de abordar com Jobim a possibilidade de o presidente do STF voltar seu projeto político para a disputa ao governo do Rio Grande do Sul.

Mas, por ora, Jobim não aceita nem descarta esta ou aquela hipótese, mantendo-se, porém, inteirado de todos os movimentos, passo a passo, da construção de um cenário favorável para sua volta à política. Os engenheiros da obra não fazem nada sem falar com ele.

Preferências

Avalistas da renovação do apoio da ala governista do PMDB ao presidente Luiz Inácio da Silva, os senadores José Sarney e Renan Calheiros têm definidas suas preferências para a troca de ministérios e ministros da cota.

Sarney gostaria de ver Silas Rondeau nas Minas e Energia, mas tem também a ofertar para a Saúde o nome do senador Papaléo Paes, do Amapá.

Calheiros apadrinha a nomeação do ex-senador tucano Sérgio Machado para as Minas e Energia.

Sejam quais ou quantos forem os pemedebistas a ocupar gabinetes na Esplanada dos Ministérios, o horizonte do Planalto para a conclusão das trocas era terça-feira, no máximo.

A luta continua

Como se já não bastassem as brigas em torno do apoio e cargos no Poder Executivo, o PMDB estende a refrega ao Legislativo. O próximo lance será em agosto, quando está marcada para o dia 10 a escolha do novo líder na Câmara.

Os governistas insistirão na permanência do deputado José Borba. Os oposicionistas apresentam três nomes à disputa: Eliseu Padilha, Moreira Franco e Geddel Vieira Lima.

A tentativa é levar a bancada da Câmara, hoje dividida ao meio, para um pouco mais longe do governo, já que a do Senado é majoritária e incontestavelmente aliada ao Planalto.

De mercador

Os presidentes dos partidos até agora estão fazendo de conta que não ouviram Roberto Jefferson falar sobre o abastecimento dos caixas paralelos das agremiações. Não poderão ficar surdos, muito menos mudos, por muito tempo.