Título: FHC sugere a Lula que desista de reeleição
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2005, Nacional, p. A12

Para ele, presidente deveria anunciar que não concorrerá e investir em projetos

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recomendou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que desista da reeleição e defina agora um leque de projetos vitais para o País, que possam ser compartilhados com a oposição e apoiados por ela, numa saída negociada para a crise política que envolve o governo. Ao fazer a recomendação, em entrevista concedida à revista Exame desta quinzena, FHC disse que essa solução permitiria a Lula aliviar a crise e, mais adiante, voltar a se candidatar, numa situação melhor. Na entrevista, o ex-presidente tucano disse que apesar de a economia estar se comportando bem e se revelando blindada a uma eventual contaminação pelo desarranjo político, "não dá para afastar o risco de um curto-circuito nos mercados".

Na avaliação de FHC, a popularidade do presidente petista continua em alta porque não foi detectado, até o momento, nenhum indício de envolvimento pessoal de Lula no escândalo do mensalão, denunciado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Apesar disso, ele observou que 37% de avaliação favorável (porcentual que, segundo ele, as últimas pesquisas de opinião apontam para Lula) "é muito pouco para quem está no poder e ainda não possui um adversário definido" nas próximas eleições.

FHC foi, mais uma vez, evasivo ao falar de seus projetos pessoais. Apesar de insistir novamente que não será candidato à presidência em 2006, fez uma ressalva: "Enquanto puder controlar meu destino, vou continuar meu trabalho no Instituto FHC. O PSDB tem nomes competitivos - desde que haja paz entre nós", frisou.

Ao comentar as origens da atual crise, FHC disse que uma de suas matrizes "foi a montagem equivocada do governo". Ele apontou como um dos equívocos o fato de o governo Lula ter pulado "de 20 para mais de 30 ministérios". Ademais, ele comentou que Lula cometeu outro erro: "Foi dado demasiado poder à Casa Civil", explicou.

CANDIDATO

O não-candidato Fernando Henrique comportou-se como candidatíssimo terça-feira à noite, quando foi fazer uma palestra no evento SAE100, a comemoração dos cem anos de fundação da Society of Automotive Enginneers (Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade), integrada por profissionais ligados à indústria automotiva e aeronáutica. Ao chegar ao evento, FHC desfilou no coquetel e cumprimentou todos os 250 presentes, parte expressiva do PIB paulista.

Ele criticou duramente o compasso de espera que o governo Lula impôs às negociações da Alca, advertindo que os EUA estão fazendo acordos bilaterais com os países latinos "nas costas do Brasil". Chamou a atenção para o fato de que o governo brasileiro parece não estar atento à evolução econômica de dois gigantes que serão intensamente competitivos na economia mundial em futuro breve - a China e a Índia.

Ao fal ar sobre as perspectivas do Brasil no cenário mundial, FHC disse o que os engenheiros de ponta brasileiros gostariam de ouvir: que o País adquiriu uma vocação especial para ocupar mercados diferenciados, distribuindo suas vendas de forma equilibrada e não se tornando dependente de uma região em especial.