Título: 'Com esse Congresso não tem reforma política'
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2005, Nacional, p. A8

Paulo Delgado acha que a crise política vai ocasionar a morte da Nova República, inaugurada com o fim da ditadura militar; e que a saída da crise vai inaugurar a 6.ª República, a que vai incorporar a prática política saudável que virá depois da reforma política. "Com esse Congresso? Com esse Congresso, não tem reforma política", constata Euclides Scalco, com a experiência de deputado de vários mandatos e coordenador político do governo FHC. Como solução para o desencanto da sociedade com os políticos, Scalco defende uma reforma política rigorosa, mas desaconselha que ela seja feita agora. "A reforma política é importante demais para entrar em cena como solução da crise", diz. Marco Maciel concorda: a reforma política não deve ser conjeturada "nesse clima". "O parlamentarismo queimou-se no Brasil depois de virar solução para sair de uma crise", lembra ele.

O governo Lula teria mais chances de sobreviver, opina Fernando Gabeira, se tivesse se engajado sincera e plenamente na apuração das denúncias. Quando tentou bloquear as instâncias de investigação, começou a se comprometer com as denúncias, observa ele. Gabeira se diz inconformado até hoje com o bloqueio das investigações e, mais que isso, está irritado com a tática usada pelas bancadas do PT nos últimos dias, de voltar a dificultar as apurações, "recorrendo a complicadas ginásticas mentais". Delgado, visto como uma ilha de lucidez no PT, acha que o mal maior está na "competição intra-elite partidária de PT e PSDB paulistas". "A política paulista está submetida a articulações feitas no campo econômico estadual, enquanto o resto do Brasil precisa de intermediações políticas", constata ele, lamentando que essa disputa estadual acabe comprometendo as chances de uma articulação nacional entre os dois partidos.

O senador Pedro Simon, que anteontem fez um comovente pronunciamento no Senado, se diz assustado com a crise. "Nunca vi coisa igual. Nem no tempo do Collor se chegou a tanto, se envolveu tanta gente, tantos órgãos do governo", diz.

Simon acha que Lula começou a acertar quando colocou Dilma Roussef na Casa Civil, quando nomeou um novo Procurador Geral "que não é engavetador" e quando tirou Romero Jucá do Ministério da Previdência; mas errou em cheio quando buscou uma aliança com o PMDB e quando deu o cargo de líder no Senado ao questionado Jucá. "O PMDB está dividido. Não tem nada para dar ao governo."