Título: Procuram-se patronos para as estátuas da cidade
Autor: Natália Zonta
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2005, Metrópole, p. C8

Lançada há quase um ano por uma ONG em parceria com prefeituras, campanha Adote um Monumento só conseguiu que 12 obras fossem 'adotadas'

Na Praça Dom Orione, no bairro do Bexiga, região central de São Paulo, que foi imortalizado pelo compositor Adoniran Barbosa, o busto de bronze com as feições do músico parece que chora, tamanho o descaso com o monumento. As marcas de ferrugem formam uma lágrima na face da estátua. O busto é um dos 400 monumentos da cidade que podem ser beneficiados pela campanha Eu Amo o Brasil - Adote um Monumento, lançada no fim do ano passado pela Federação de Amigos de Museus do Brasil (Fambra) em parceria com a Prefeitura. Até agora, a Fambra conseguiu que apenas 12 estátuas fossem adotadas, mas nenhuma tem previsão de início de restauro. "Um de nossos maiores problemas é a demora de aprovação pela Prefeitura. Isso faz com que as empresas se afastem", disse o presidente da Fambra, João Marcelo Braga.

A campanha começou em setembro e, desde o início, o plano é incentivar empresas e cidadãos a assumir o restauro de monumentos, além de cuidar do paisagismo do entorno e da produção de material didático sobre as obras, o que servirá para escolas e roteiros turísticos culturais. Algo como o projeto Adote uma Obra Artística, da Prefeitura, que existe desde 1994, porém, mais rápido.

Mas a intenção de tornar mais ágil o processo de restauro ainda não foi alcançada pela Fambra. "Tentamos ao máximo divulgar a campanha por todo o Brasil, mas, quando as empresas percebem que não há garantias da velocidade da aprovação da recuperação, acabam desistindo", afirmou Braga.

Segundo o Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), se o projeto de restauração proposto atender todas as exigências, o processo não demora mais do que 45 dias para ser aprovado. "A demora começa quando devolvemos o projeto para que sejam feitas alterações. Muitas vezes as propostas estão incompletas, isso é que atrasa a aprovação", disse Regina Ponte, assistente técnica da diretoria da DPH.

A campanha é nacional, por meio de parcerias. No Rio de Janeiro, por exemplo, as empresas que aderem ao programa têm benefício da Lei Rouanet. Em São Paulo, o projeto agora se esforça para formar a primeira turma de "guardiães-mirins" em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura.

A ação promete capacitar alunos de escolas próximas para que depois cuidem dos monumentos. "A primeira turma está tomando aulas no Museu Paulista, no Ipiranga, mas é um processo demorado. As crianças aprendem desde elétrica até a história de cada monumento", explicou Braga. Além do busto do Adoniran, outra obra que a entidade se esforça para conseguir interessados é o monumento conhecido como Quatro Ondas, de Tomie Ohtake, na Avenida 23 de Maio.