Título: `Tony Blair¿ francês atropela todos e arranca nas pesquisas
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2005, Internacional, p. A19

O ministro do Interior da França, Nicolas Sarkozy, candidato sem o aval de Jacques Chirac à sucessão presidencial em 2007, está-se transformando num tsunami político. A 22 meses da eleição, as pesquisas de opinião indicam que ele venceria eventuais adversários da direita ou esquerda.

Sarkozy é um nome onipresente nas manchetes dos jornais e nos noticiosos de televisão.

Na última semana, foi capa de três semanários: Le Point, Paris Match e Le Nouvel Observateur.

E ocupou as primeiras páginas dos jornais Le Parisien e Libération.

Na TV, debates tratam do "enigma Sarkozy".

Em plena campanha eleitoral, Sarkozy não rejeita nenhuma polêmica.

É acusado pelos adversários de desvios populistas ao tentar pescar votos nas águas turvas da extrema direita de Jean-Marie Le Pen .

"Quero seduzir não só os eleitores da Frente Nacional, mas também os que abandonam a esquerda clássica e mundana", repete ele, que se imagina um Tony Blair francês e se define como "mais liberal do que conservador".

Num discurso de defesa da polícia e ataque a decisões judiciais, deflagrou uma guerra contra a magistratura.

No Palácio da Justiça de Paris , juízes e advogados tem se manifestado contra as pressões exercidas por ele.

Como ministro do Interior, Sarkozy desafia e discorda publicamente dos próprios colegas do ministério e contesta as decisões do primeiro-ministro.

Ele não faz esforço para respeitar a solidariedade devida ao governo do qual participa.

A insolência de Sarkosy não poupa nem Chirac.

Desde que os franceses rejeitaram a Constituição européia, ele tem repetido nas rodas políticas que "Chirac está acabado", referindo-se a inviabilidade de uma candidatura do presidente a um terceiro mandato .

O comportamento dele se baseia nas pesquisas.

Uma delas, do instituto BVA, divulgada na sexta-feira indica que Sarkozy venceria todos os adversários.

Pela mesma sondagem, Chirac, com apenas 9% de apoio popular, perderia de todos.

Muita água deverá passar ainda sob a ponte Mirabeau até a eleição presidencial, mas a candidatura de Nicolas Sarkozy está se consolidando, em parte graças também ao fato de presidir e controlar a UMP, o partido governista e majoritário.

O ponto fraco de Sarkosy está em problemas conjugais, com a segunda mulher, Cecília - antiga companheira do apresentador de TV Jacques Martin.

Ela chefiava o gabinete dele, mas acabou desistindo da função.

Sem demonstrar interesse em tornar-se primeira-dama, ela acabou abandonando-o.

Mas ele, embora visivelmente desestabilizado, não desiste e promete reconquistá-la num prazo de cem dias.