Título: Brasil precisa do gás boliviano
Autor: Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2005, Economia & Negócios, p. B6

Apesar da crise, Ministério de Minas e Energia diz que País mantém ampliação de gasoduto na Bolívia

Apesar da crise política boliviana, o governo ainda não desistiu do projeto de ampliação do Gasoduto Bolívia-Brasil, disse ontem a secretária de petróleo e gás do Ministério de Minas e Energia (MME), Maria das Graças Silva Foster. Segundo ela, o País precisará de volumes adicionais aos 30 milhões de metros cúbicos contratados atualmente com o país vizinho, até que os blocos licitados no próximo leilão da Agência Nacional do Petróleo (ANP) comecem a produzir - o que deve acontecer, "com otimismo", a partir de 2012. "Até lá temos um crescimento considerável que tem que ser suprido não só com produção interna, mas com negociações com Bolívia, Argentina e Peru, além de uma eficiente gestão de oferta e demanda", afirmou Maria das Graças, que participou de seminário sobre o setor no Rio. O gasoduto teria de ser ampliado em pelo menos 8 milhões de metros cúbicos, segundo estimativa do MME, com investimento de cerca de US$ 350 milhões. A ampliação chegou a ser negociada com as empresas no início da década, mas foi suspensa porque não havia mercado para o gás.

O leilão da ANP está marcado para outubro e, até lá, o governo tem de desenhar um esboço da nova lei do gás para dar segurança aos investidores. Uma proposta já foi entregue ao Congresso pelo senador Rodolpho Tourinho. O MME trabalha em outro projeto, que deve ser levado a votação antes da rodada de licitações. Segundo o senador, a proposta dele privilegia a visão de mercado, enquanto a do governo "pensa só com os olhos da Petrobrás".

CRISE

Cálculos da Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia (Abrace) apontam para um déficit de até 30 milhões de metros cúbicos por dia, a partir de 2008, se os investimentos em produção e infra-estrutura para transporte do gás não forem acelerados. A situação, porém, não tem qualquer efeito da crise boliviana, já que produtores locais afirmaram que os negócios continuam sendo tocados.

"A crise da Bolívia foi muito mal-interpretada. Nada mudou, ou melhor, mudaram algumas coisas, o que fez com que as margens das empresas diminuíssem, mas tudo vai continuar agora sob essa ótica", afirmou o presidente da britânica BG no Brasil, Luiz Carlos Costamillan.

Já o presidente da companhia espanhola Repsol, João Carlos de Luca, foi evasivo: "Estamos ainda avaliando o impacto. Não dá para saber como fica a situação."

A redução de margens pode provocar perdas de até US$ 150 milhões por ano à Petrobrás, caso a elevação de impostos não seja repassada ao consumidor final.

O cálculo foi feito pelo centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE) e considera a manutenção da receita obtida com a venda do gás e o aumento de custos provocado pela nova legislação boliviana.