Título: Resposta ao tratoraço será dada na terça
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2005, Economia & Negócios, p. B5

Protesto em Brasília terminou, mas pedidos ainda estão em negociação

Os agricultores esperam receber até terça-feira uma resposta do governo para o pedido de ajuda adicional ao setor agropecuário. "Foi isso que nos prometeu o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante", afirmou o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, um dos coordenadores do "tratoraço", manifestação que reuniu, segundo os organizadores, 25 mil agricultores em Brasília nesta semana. O protesto terminou anteontem. Os produtores pedem, entre outros pontos, o reajuste do preço mínimo do arroz, de R$ 22 para R$ 25 por saca de 50 quilos. O governo aceita R$ 23. É com base nesse valor que o governo elabora as políticas de apoio à comercialização. Outro pedido é para a renegociação das dívidas de custeio da safra 2004/05 que vencem entre julho e novembro deste ano. Os produtores querem adiar o pagamento destas dívidas para o próximo ano, mas o governo alega que esta rolagem resultaria em redução do volume de recursos para financiar o plantio da próxima safra.

Em relação ao reajuste do preço do arroz, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin, disse ontem que a área econômica do governo resiste em elevar o valor para R$ 25, valor que poderia ter impacto sobre a inflação, o que traria prejuízos à política de estabilidade. Ele lembrou que o valor oferecido está acima do praticado no mercado. Hoje, o produto é cotado a R$ 19 no Rio Grande do Sul, de acordo com o ministério.

Os débitos de custeio, que vencem no segundo semestre, totalizam R$ 5,4 bilhões no Banco do Brasil. "Isso equivale a mais de 25% dos R$ 20,9 bilhões destinados ao custeio no Plano Safra 2005/06", avalia Wedekin. O governo argumenta que o atendimento da reivindicação vai comprometer a alocação de recursos para outros setores e reduzir a oferta de crédito para a próxima safra, que começa a ser cultivada em meados de setembro.

As negociações ainda estão em andamento, mas Sperotto afirmou que as medidas anunciadas pelo governo durante o protesto demonstram "atendimento satisfatório" das reivindicações. A mais importante é a liberação de R$ 3 bilhões do caixa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para que os produtores possam quitar dívidas com fornecedores de insumos.

Os agricultores enfileiram 2,5 mil tratores na Esplanada dos Ministérios como forma de pressionar o governo a ajudar o setor, prejudicado pela quebra de 18,2 milhões de toneladas na safra 2004/05, pela elevação dos custos de produção, pelo câmbio desfavorável ao comércio exterior e pela queda nos preços internacionais dos principais produtos agrícolas.