Título: Juro alto eleva dívida em R$ 164 bi
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 19,75% ao ano representa para o País um custo anual de R$ 164 bilhões só com pagamento de juros da dívida do setor público. O governo poderia economizar até R$ 61 bilhões, o equivalente a 3% do Produto Interno Bruto (PIB), caso o juro básico fosse reduzido, por exemplo, para 12%. Com a taxa de juros nesse nível, a cotação do dólar tenderia a subir da média de R$ 2,40 dos últimos meses para até R$ 3,20, o que representaria custo adicional de R$ 27,4 bilhões para a dívida pública dolarizada.

Ainda assim, essa combinação de juros e câmbio reduziria em quase R$ 32 bilhões o déficit público, o equivalente a 1,6% do PIB. Não é pouca coisa. É mais do que o governo arrecadou com tributos federais em maio (R$ 27 bilhões) e supera até mesmo o total de gastos do

Ministério da Saúde com despesas em 2004 (R$ 28,1 bilhões).

As estimativas constam de um trabalho inédito do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e mostram que o impacto dos juros elevados não pesa apenas no bolso do consumidor na hora de financiar uma compra ou no custo dos investimentos das empresas.

Tanto consumidores quanto empresários pisaram no freio, diante dos efeitos recessivos da atual política de juros altos e câmbio baixo.

Usando dados do Banco Central, o estudo mostra que seria possível uma redução significativa no déficit público por meio da combinação desses dois fatores. Na hipótese do juro básico cair para 14% ano, o governo poderia economizar R$ 45 bilhões no pagamento de juros da dívida. Levando em consideração o impacto que essa taxa de juros teria sobre o câmbio (poderia subir para até 3%), haveria possibilidade de redução no déficit público de R$ 24,5 bilhões.

"Essas mudanças viabilizariam níveis próximos a zero de déficit público, o que contribuiria para uma queda mais rápida das taxas de juros", diz Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.