Título: Iedi propõe corte de gasto público de 1,5% do PIB
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2005, Economia & Negócios, p. B3

A redução do juro básico é meio caminho para o País alcançar o o déficit nominal zero proposto ao governo pelo deputado Delfim Netto (PP-SP). Essa é uma das principais conclusões de um trabalho em que o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) dimensiona o custo da política econômica em vigor no Brasil.

A entidade estima que o déficit nominal (receitas menos despesas, incluindo os gastos com juros) do setor público este ano deverá ficar pouco acima de 3% do Produto Interno Bruto (PIB).

De acordo com o estudo, o governo poderia reduzir o gastos público em valores que vão de 1,2% a 1,6% do PIB, por meio de uma combinação diferente da atual política monetária e cambial.

Com uma taxa Selic de 14% ao ano e câmbio de R$ 3,00 por dólar, a redução seria de R$ 24,5 bilhões.

Já a combinação Selic de 12% e câmbio de R$ 3,20 resultaria em diminuição no déficit público de quase R$ 32 bilhões.

"Para zerar o déficit nominal, o governo precisa ir além da redução do juro e cortar os gastos públicos numa proporção equivalente a 1,5% do PIB", afirma Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.

"Não queremos aumento da carga tributária nem redução de investimentos", acrescenta.

No entender do Iedi, o corte deve ser centrado nos gastos de custeio.

Mas a entidade reconhece que essa tarefa não é nada fácil.

" Para reduzir custeio, o governo vai ter de`peitar"a turma que se beneficia da corrupção, da sonegação e dos benefícios do setor público.

A dúvida é se o governo está disposto a enfrentar interesses tão poderosos.

" Almeida ainda tem dúvidas também quanto à disposição do governo em contrariar os interesses do sistema financeiro, que segundo ele representa um dos poucos setores da atividade econômica no País que lucra com os juros altos.

"Ninguém entende, exceto o privilégio do mercado financeiro, porque o governo continua dando tiro no pé", afirma o diretor do Iedi, referindo-se à manutenção dos juros elevados.

Segundo ele, a redução dos juros seguida da valorização do dólar ante o real estimularia o investimento privado, as exportações e o consumo, animando de forma bastante positiva a atividade econômica.

"É difícil de estimar, mas daria para a economia crescer de 5% a 6% ao ano, de forma consistente.

O governo diz que já estamos vivendo um crescimento sustentado, mas isso é muito mais torcida do que verdade.

" MAIS GASTOS PRIVADOS A mudança na política econômica defendida pelo Iedi resultaria em uma redivisão de tarefas, em que o crescimento passa a depender mais do gasto do setor privado e menos do gasto público.

"Isso é sadio, pois o crescimento vindo do governo só é importante quando a economia está no bagaço e o governo tem de entrar gastando para compensar o que o setor privado deixou de gastar e, dessa forma, evitar o pior.

" O estudo do Iedi mostra ainda que a mudança na política de juros e câmbio também seria melhor do ponto de vista da própria dinâmica da dívida.

No texto, a entidade destaca que os recursos anteriormente destinados ao financiamento do setor público seriam liberados com uma nova composição de juros-câmbio.

Com isso, a economia brasileira teria potencialmente um crescimento não só maior, como de melhor qualidade, por causa da possibilidade de ampliação do investimento do governo em infra-estrutura.

"Ao lado disso, a ampliação dos investimentos privados contribuiria para reduzir eventuais riscos presentes e futuros de aumentos da inflação.

" O diretor do Iedi ressalta que é preciso mudar o eixo da política de combate à inflação.

"O eixo deixaria de ser juros e câmbio e passaria a ser a solidez das finanças públicas.

" Para a entidade, o uso da taxa de juros elevada como principal instrumento da política econômica implica custos muito mais elevados para a dívida pública do que seria necessário para o seu financiamento.

"O que estamos dizendo é que, com essa política monetária que está aí, o governo pode esquecer o déficit nominal zero", conclui Almeida.