Título: Déficit argentino com Brasil pode passar de US$ 2,5 bi
Autor: Ariel Palácios
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2005, Economia & Negócios, p. B3

Na balança comercial entre os dois países, país vizinho já acumula 25 meses consecutivos no vermelho

O déficit comercial argentino com o Brasil continua crescendo. Segundo o Centro de Estudos Bonaerenses (CEB), em junho o saldo comercial foi deficitário em US$ 330 milhões para a Argentina. Na balança bilateral, o país vizinho já acumula 25 meses consecutivos em vermelho. A previsão é que no encerramento de 2005 o déficit com seu parceiro de Mercosul ultrapasse os US$ 2,5 bilhões. No ano passado, o déficit argentino com o Brasil chegou a US$ 1,8 bilhão. Em 2003, ocorreu o último saldo favorável à Argentina, de apenas US$ 112,6 milhões. Foram nove anos consecutivos (1995-2003) de confortável superávit comercial, ao longo dos quais a Argentina acumulou US$ 10 bilhões.

Só entre janeiro e junho deste ano, o déficit argentino com o Brasil foi de US$ 2,985 bilhões. Isso equivale a 17% a mais do que no mesmo período de 2004.

As importações argentinas de produtos brasileiros cresceram em junho 31,4% em comparação com o mesmo mês do ano passado, chegando a US$ 862 milhões. As vendas brasileiras à Argentina atingiram US$ 4,54 bilhões de janeiro a junho deste ano, 38,6% a mais do que no mesmo período de 2004.

Em junho, as exportações argentinas ao Brasil foram de US$ 532 milhões, 11,1% mais do que no mesmo mês de 2004, Segundo o CEB, nas vendas argentinas destaca-se a recuperação das exportações de produtos industrializados. No primeiro semestre, o país acumulou US$ 2,98 bilhões em exportações ao Brasil. Dos dez produtos argentinos cujas exportações apresentaram os maiores crescimentos de janeiro a abril deste ano, oito foram classificados como manufaturas industriais e dois como combustíveis.

A balança comercial negativa em 2004 e neste ano provoca irritação em vários setores do empresariado local. Eles afirmam que estão sendo invadidos por produtos Made in Brazil. Estes setores têm influência sobre o governo do presidente Néstor Kirchner, que em diversas ocasiões lhe prometeu apoio. Analistas afirmam que a política protecionista contra os produtos brasileiros tende a crescer no terceiro trimestre, já que em outubro Kirchner enfrenta eleições parlamentares e um discurso duro, seja contra o Brasil, o FMI ou as empresas privatizadas de serviços públicos, traz muitos votos.