Título: Investimento ganha espaço em áreas fora do Sudeste
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2005, Economia & Negócios, p. B12
Cícero Aleixo Paulino e João Batista de Souza estão na base de uma indústria próspera. No semi-árido nordestino, o "Forno" em fase final de montagem os insere numa cadeia pela qual passam bilhões de dólares por ano.
Relatório interno do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) - desenvolvido pela Secretaria de Desenvolvimento da Produção, ao qual o Estado teve acesso - relaciona os próximos passos da siderurgia nacional.
Mostra projetos em estudo e em curso e conclui que uma novidade está a caminho.
O Brasil regional, como o que se observa em São João do Belmonte, entrou na rota dos investimentos e poderá dividir as cifras bilionárias prometidas à elevação da produção de minério, ferro-gusa, de aço bruto e de produtos acabados.
Segundo o relatório, os investimentos siderúrgicos e de mineradoras (como os da Companhia Vale do Rio Doce, CVRD, e o da anglo-australiana Rio Tinto) superam US$ 22,5 bilhões até 2012, o suficiente para duplicar a produção de aço no Brasil dos atuais 34 milhões de toneladas para 70 milhões.
Ao final, diz o ministério, a hegemonia do Sudeste no setor siderúrgico - onde está 93% da produção - será passado.
O Pará, principal fornecedor de minério de ferro, em Carajás, se prepara para produzir aço, não apenas ferro-gusa.
No Maranhão, três projetos capitaneados pela CVRD em parceria com grandes siderúrgicas internacionais estão em estudo.
Entre os conglomerados internacionais envolvidos estão a chinesa Baosteel (com eventual inclusão da Arcelor) e a sul-coreana Posco.
No Ceará, há o projeto da Usina Siderúrgica do Ceará para a produção de 1,5 milhão de toneladas de placas de aço.
O negócio é previsto com a italiana Donielli e o grupo sul-coreano Dongkuk.
Há também o projeto siderúrgico no Porto de Sepetiba (RJ) em parceria com a alemã Thyssen Group.
Apesar de criticarem a preferência da Vale por parceiros estrangeiros, as siderúrgicas nacionais prometem investimentos de US$ 12,5 bilhões em 7 anos.
O governo considera factível a crença de que pelo menos parte dos projetos se concretize.
"O setor mínero-siderúrgico passou anos sem se lançar em grande empreendimentos, o que começa a ocorrer agora ante às excepcionais oportunidades mundiais.
O governo tomou decisões para desonerar os investimentos e elas devem surtir efeitos", diz Antonio Sérgio Martins de Mello, secretário de Desenvolvimento da Produção do MDIC.
O governo reduziu de 14% para 2% o Imposto de Importação para equipamentos sem similar nacional, cortou o IPI para o mesmo grupo de máquinas e retirou a incidência da PIS e da Cofins a partir da "MP do Bem".
A CVRD retrocedeu nos estudos sobre os projetos, à luz das novas medidas.
São empreendimentos de impacto regional, maiores que os gerados pela siderúrgica no interior de Pernambuco.
Capazes de ofertar a outros Cíceros um destino ao alvorecer.