Título: Exportação desafia dólar. É recorde
Autor: Rosana de Cassia, Carlos Franco e Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

Apesar de a moeda americana continuar caindo, as vendas externas chegaram ao valor histórico de US$ 10,2 bilhões em junho

A balança comercial brasileira continua desafiando o dólar baixo e quebrando recordes. As exportações atingiram o recorde histórico de US$ 10,2 bilhões em junho, elevando o total exportado pelo País no primeiro semestre para US$ 53,6 bilhões. As importações somaram US$ 34 bilhões no semestre, resultando em um superávit comercial de US$ 19,6 bilhões. Os bons resultados levaram o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, a prever ontem que as exportações deste ano cheguem a US$ 112 bilhões e o superávit comercial, a US$ 35 bilhões. "Continuaremos com um ritmo de crescimento do comércio exterior superior à taxas globais", disse Furlan. "Tanto que crescemos 30% nos últimos dois anos, sendo superados apenas pela Rússia e a China, com média de 35%, enquanto o resto do mundo ficou na marca de 10%."

Para Furlan, os números demonstram que o comércio exterior deverá responder por mais da metade do crescimento do PIB deste ano e os resultados serão 10% melhores que os do ano anterior.

Segundo a análise de Guilherme Loureiro, economista da Tendências Consultoria Integrada, as exportações deste ano estão acima das expectativas por causa dos altos preços dos produtos básicos e semimanufaturados. Nos dados dessazonalizados (descontadas as variações sazonais), a exportação de produtos básicos cresceu 7,7% no segundo trimestre (em relação ao primeiro) e a venda externa de semimanufaturados aumentou 7,8%.

Já as vendas de manufaturados desaceleraram 2% na comparação dessazonalizada entre o segundo e o primeiro trimestres. "Apesar de não haver reflexo nos números ainda, há um sinal de alerta para as exportações de manufaturados", diz Loureiro. Segundo ele, o câmbio valorizado e a acomodação da demanda mundial - o mundo cresce muito, mas a taxas inferiores às do ano passado - esfriaram a exportação de bens manufaturados.

Antônio Corrêa de Lacerda, professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC), também mostra preocupação em relação à exportação de manufaturados. "Muitas multinacionais estão revendo suas estratégias de exportação, principalmente no ramo de automóveis e eletroeletrônicos", diz Lacerda.

Segundo ele, o Brasil está perdendo a oportunidade de se tornar plataforma de exportação de alguns produtos de maior valor agregado. "Com o câmbio mais desvalorizado, teríamos condições de ganhar mais terreno."

O desempenho das importações traz uma mensagem otimista. Segundo Loureiro, o crescimento das importações foi puxado pela alta na compra de bens de capitais - de 7% no dado dessazonalizado do segundo semestre. "O crescimento da compra de máquinas e equipamentos foi principalmente em volume, indicando forte aumento nos investimentos aqui no País", diz o economista.

O saldo da balança comercial de junho foi 6,1% maior que o resultado de junho do ano passado. O resultado de janeiro a junho (US$ 19,671 bilhões) é 31,1% maior que o do mesmo período de 2004 (US$ 15,004 bilhões. No acumulado de 12 meses, o saldo de US$ 38,337 bilhões é 30,4% maior do que o de julho/2003-junho/2004 (US$ 29,399 bilhões).